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terça-feira, 29 de junho de 2010

Texto da Professora Vera Salim em apoio à Chapa 4 Revida, Minerva!

Sobre as eleições 2010 para o DCE Mário Prata - UFRJ


Aos que virão depois de nós
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.

B. Brecht


Caros alunos:

Nos dias 29-30/06 e 01/07 ocorrerá mais uma eleição para o DCE, Diretório Central de Estudantes da UFRJ.
Como todos sabem apóio a Chapa 4, REVIDA MINERVA.
Tenho bons e consolidados motivos e argumentos para esta escolha, referendada numa prática de colaboração conjunta desde 2002.
Mas.... não escrevo para pedir votos e sim reflexão.
Citando Brecht, poeta preferido, não me furto da tarefa de falar “para os que virão depois de nós”, motivo maior do meu exercício do magistério com tanta
paixão.
Jamais serei indiferente, especialmente quando se trata de refletir e procurar rumos para a universidade pública e lutar para transformar a dura realidade que nos cerca.
Ao longo de toda minha vida como professora, na área de ciências exatas, especialmente nas aulas de Metodologia Científica tentei, sempre,
enfatizar que o futuro se constrói com reflexão crítica e ação transformadora sobre o presente.
Muro da vergonha na Linha Vermelha, HU desabando, salas superlotadas, mega eventos esportivos alienantes, assaltos, medo pairando sobre nossas cabeças nas mais simples ações cotidianas, empilhamentos diários nos nossos transportes coletivos, etc., são faces da mesma moeda: o modelo de sociedade vigente.
A eleição do DCE deveria e deve cumprir o papel de ser um importante momento de debate, reflexão, e participação estudantil na vida da UFRJ.
Momento de questionar a universidade em que estudamos e entender que aqui devemos exercitar nossa potencialidade de intervenção transformadora. Temas que tanto procurei trabalhar com vocês em sala de aula, especialmente de Metodologia Científica!
Assim, lamento que a atual gestão do DCE, Chapa 2, tenha escolhido momento tão impróprio para eleição fazendo uma eleição apressada no final do período, em momento de Provas e COPA do MUNDO.
Por quê? A quem interessa desperdiçar este momento e realizar uma eleição tão importante para este difícil momento da UFRJ, no final de período, entre provas, Copa e esvaziamento das salas de aula? Queremos inibir os debates, questionamentos e reflexão? Apostamos em campanhas de festas, cervejas e que vençam os cartazes mais bonitos, as campanhas mais ricas, as maiores chopadas? Vamos aqui reproduzir os processos eleitorais que tanto criticamos?
Merecemos muito mais do que isto na nossa universidade, a maior universidade federal do Brasil!
Como então escolher a melhor chapa, num processo eleitoral desta natureza? Prevalece o critério de avaliação da prática, que deve sempre referendar modelos em análise e seus postulados teóricos.
Prevalece o questionamento correto e a busca de respostas certas para perguntas certas. O que foi feito na atual gestão? Como foi feito? Que propõem os que querem mudar?
Porque chapas que se dizem de mudança como a chapa 3, ainda estão na UNE, hoje fábrica de carteirinhas e sustentação de políticas educacionais que precarizam a universidade?
As chapas 1 e Chapa 5, nem merecem minha análise, uma vez que claramente não se colocam no campo progressista dos que querem mudanças reais. Ambas estão a serviço do modelo de educação excludente (chapa 5) e de precarização da universidade (chapa 1).
Queremos assistência estudantil? Qual? Queremos cotas? Quais? Quem fez o debate de cotas? Porque não se tem coragem de debater esta questão tão delicada? Poderia aqui enumerar um número infinito de perguntas que precisaram ser formuladas e debatidas neste processo eleitoral.
Uma importante reflexão final:
Interessa-me mostrar que metodologia científica, pensada como um método de busca da verdade numa realidade objetiva deve ser aplicada em todas as situações. Metodologia: um conjunto de leis e procedimentos que nos permite ter um método correto de análise da realidade. O uso de um método correto nos permite chegar com segurança a um modelo de validação da verdade objetiva que sim, deve sempre ser validado e referendado experimentalmente. Processo bem mais difícil, nas ciências sociais do que nas exatas.
Mas aqui ainda cabe a máxima do materialismo dialético; as chapas não são o que elas dizem. As chapas são o que elas fazem.
Assim pensando estaremos aplicando o método materialista que busca no resultado experimental a comprovação do discurso/modelo teórico. Por isto tenho sempre apoiado a Chapa 4, REVIDA MINERVA, uma chapa com uma correta e referendada prática política.
Acreditando que a universidade pública é, ainda, o espaço de realizar uma educação transformadora fica meu pedido: pensem e debatam antes de
votar!
Fazendo isto vocês estarão usando a reflexão e o potencial transformador a serviço da manutenção e preservação da universidade pública,
espaço de produção de saber e reflexão e não fábrica de diplomas e gestores empreendedores.
Pensem antes de votar e votem no melhor!

Carinhosamente,

Profa. Vera Salim
COPPE/UFRJ

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sobre o novo Movimento Estudantil: saiu no JB

Na última semana, o Jornal do Brasil publicou matéria sobre o novo Movimento Estudantil. Segue abaixo a carta enviada pela Professora Vera Salim, publicada na edição seguinte, assim como a carta na íntegra escrita pela ex-vice-presidente da AdUFRJ-SSind:

Um Novo Movimento Estudantil

Parabéns ao JB pela reportagem sobre o novo movimento estudantil (edição 11/01/2009).

Devo, no entanto, registrar a minha total discordância com as afirmações de Vladimir Palmeira (PT/RJ), contidas nesta reportagem.

Entre tantas destaco: “O problema não é contestar ou não o governo” e “...eles formulam demandas inadequadas que pouco têm a ver com o cotidiano do estudante”.

Todos nós, que vivemos diariamente nas Universidades Públicas, lutando pela manutenção da sua excelência, sabemos que as lutas travadas por estes estudantes não estão isoladas ou descoladas do cotidiano da vida universitária.

Nossos estudantes se posicionaram criticamente e combateram o Reuni e Prouni, programas que, como bem mostrou o JB nesta mesma edição, influenciam sim a vida de todos os nossos estudantes, pois alteram a concepção e a qualidade da sua formação superior.

Nossos combativos estudantes, pertencentes a este novo movimento estudantil, também realizaram duras batalhas reivindicando bebedouros, bandejão, alojamentos, bolsas estudantis etc. e denunciaram gastos irregulares de seus dirigentes, só para citar alguns dos tantos exemplos de lutas. Isto tudo, certamente ao contrário do que afirma Vladimir Palmeira (PT/RJ), tem a ver com o cotidiano de nossos estudantes, em todo o território nacional.

Da mesma forma, denunciar que a UNE se tornou um braço de sustentação do Governo Lula é obrigação política deste novo e real Movimento Estudantil.

Como mostra esta mesma reportagem ao receber repasses de 4,4 milhões dos cofres públicos, a UNE mostra uma total dependência do governo federal, ferindo os princípios básicos de autonomia e não atrelamento de todo movimento social.

Prof.ª Vera Salim
COPPE /UFRJ
Ex Vice Diretora da ADUFRJ-SSind ANDES
Militante do Coletivo Marxista

Abaixo segue a matéria publicada no Jornal do Brasil:

Um novo movimento estudantil
Jornal do Brasil



BRASÍLIA - “Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil”. O grito de guerra, entoado efusivamente em praticamente qualquer manifestação estudantil realizada nos últimos meses, ilustra a tentativa de estudantes engajados de esboçar uma resposta para a paralisia política atribuída ao movimento estudantil desde que os chamados caras-pintadas coloriram as avenidas do país.


Mais de 16 anos depois da saída forçada do ex-presidente Fernando Collor de Mello e muitas ocupações de reitoria depois, os estudantes, aos poucos, voltam a mostrar suas caras e, para muitos daqueles que participam ativamente desse ressurgimento, a nova fase de mobilizações encontra forças numa fonte inusitada: a quebra do monopólio da União Nacional dos Estudantes sobre a direção do movimento.


Uma das evidências indicando que a UNE hoje enfrenta concorrência para se manter na liderança dos estudantes são as eleições de Diretórios Centrais de Estudantes. Em algumas das principais universidades públicas brasileiras (confira quadro), grupos políticos de oposição à UNE, formados por estudantes vinculados a partidos menores e sem expressão parlamentar, como o PSTU, faturaram eleições recentes e fizeram as chapas encabeçadas pela União da Juventude Socialista, braço estudantil do PCdoB que há décadas comanda a UNE, amargarem derrotas dolorosas.


O caso mais recente foi também um dos mais significativos. Nas eleições para o DCE da Universidade de São Paulo, no final do ano passado, estudantes independentes e ligados ao PSTU ganharam as eleições para o diretório com mais de seis vezes o número de votos recebidos pela chapa formada por militantes do PCdoB e do PT.


– Nossa vitória expressa o fortalecimento de uma alternativa no movimento estudantil – comemora Gabriel Casoni, novo diretor do DCE da USP. – Os DCEs são importantes porque estão mais próximos dos estudantes, têm mais capacidade de diálogo com eles. Historicamente, foram os DCEs que articularam o movimento em momentos decisivos.


Outras universidades
Antes da USP, estudantes de outras instituições tradicionais, como da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Brasília (UnB) já haviam escolhido o mesmo caminho e rechaçado um DCE ligado à UNE. Não só isso, em outros estabelecimentos, como na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chapas formadas por estudantes que integram a UNE, mas se colocam na oposição interna à sua direção, hoje comandam os DCEs.


– Na campanha, quando passávamos nas salas de aula e explicávamos para os estudantes que a chapa adversária era formada pelas figuras que não queriam a ocupação, sentíamos a reação do pessoal à UNE na hora – lembra Casoni, se referindo ao período em que estudantes da universidade tomaram a reitoria por 51 dias em maio e junho de 2007 reivindicando, entre outros pontos, a retirada de decretos do governo estadual.


As ocupações de reitoria foram o grande divisor de águas que colocou um fim ao predomínio absoluto da UNE sobre o movimento estudantil. A grande maioria delas foi motivada como forma de manifestação contrária ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, iniciativa do governo federal de ampliação do Ensino Público Superior brasileiro apoiada pela UNE.


Na última mobilização estudantil de impacto, em que estudantes ocuparam a reitoria da UNB para exigir a demissão do então reitor da UnB, Timothy Mulholland, após denúncias de gastos irregulares com os recursos fundação de fomento à pesquisa ligada à universidade, a UNE reviu suas diretrizes anteriores e participou ativamente das atividades de ocupação.


– Mas não tenho dúvidas de que eles resolveram participar da ocupação para ver se recuperavam um pouco do filme queimado deles – ressalta Lucas Sallas, estudante de História que participou das manifestações. – O tempo inteiro eles atuavam nas assembléias para impedir que a pauta se ampliasse do reitor para o Reuni, para impedir a politização e manter o governo e seu programa intacto.


Entidade recebeu R$ 4,4 milhões dos cofres públicos


A proximidade entre a UNE e o governo federal é um dos aspectos mais criticados por grupos insatisfeitos com os rumos da entidade. Além da defesa de muitas das políticas governamentais, a questão do repasse de verbas federais para a entidade é apontada por muitos como um fator a minar a postura contestatória que historicamente foi a marca da UNE.


Em 2008, de acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), foram R$ 4,4 milhões diretamente para os cofres da entidade. Quase R$ 3 milhões sob a rubrica “Gestão da Política de Saúde”, do Ministério da Saúde, e o restante em outras como “Cultura, Identidade e Cidadania” e “Engenho das Artes”, do Ministério da Cultura. Oficialmente, são recursos que auxiliam a entidade a realizar iniciativas de interesse público como a “Caravana da Saúde da UNE” e eventos culturais.


– O problema não é contestar ou não o governo – avalia Vladimir Palmeira (PT-RJ), um dos principais líderes do movimento estudantil nos anos áureos da UNE, na década de 1960. – Não é uma questão específica da UNE. O conjunto das vanguardas políticas estudantis há muito não consegue dar soluções para o movimento. Elas reproduzem experiências do passado e formulam demandas inadequadas que pouco tem a ver com o cotidiano do estudante.


Segundo Palmeira, outro problema é que alguns líderes do movimento se afastam dos estudantes porque estão mais interessados em utilizar a entidade como uma espécie de trampolim para uma carreira política.


– Às vezes, o líder estudantil só está interessado em fazer uma pré-carreira política e ser eleito vereador ou algo parecido logo – critica. – É preciso discutir como a universidade vai interagir com a sociedade e como vai servir ao desenvolvimento do país. Mas essa reflexão hoje é abaixo da crítica. (R.B.)