sábado, 14 de junho de 2008

12 de junho na UFRJ: sobre namorados e lutas*

Poderia ser um simples 12 de junho. Um passeio pelo Centro de Ciências da Saúde da UFRJ para procurar um presente para comemorar a data seria uma atividade corriqueira; à medida que são diminuídas as verbas para a Saúde e a Educação Públicas, nossa Universidade, que deveria produzir conhecimento para o conjunto da sociedade, é mercadorizada. Ganha fisionomia de shopping center, com praça de alimentação em vez de Bandejão; Feiras de quitutes, bijuterias e roupas substituindo espaços de convivência entre a comunidade acadêmica; bancas de planos de saúde, que ampliam sua lucratividade.



Retornando à maquina do tempo, 24 de abril de 2007: Plano de Desenvolvimento da Educação. DECRETADO! Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais: DECRETADO! Ampliação de vagas, democratização, interdisciplinaridade, combate à evasão são palavras de ordem governistas para tentar legitimar seus projetos para a Educação, cujo método é o DECRETO! Dobrar as vagas e dobrar a taxa de aprovação. Em troca, até 20% de aumento das verbas, dependendo da capacidade orçamentária!



Nossas Magníficas Reitorias? Ajoelham-se perante a lógica mercadológica e seguem a cartilha neoliberal. Subserviência em meio a piadinhas e sorrisos entre o Reitor da UFRJ, o presidente da República e o Ministro da Educação sacramentam a assinatura referente ao DECRETO! Como se fosse natural aprovar a adesão clamando nove vezes para os conselheiros levantarem os braços sem saber o que estavam votando, em um espaço decisório arcaico que não reflete a realidade da Universidade. No dia 18 de outubro de 2007, pudemos observar a luta entre interesses antagônicos. Estudantes, professores e funcionários em defesa da Educação Pública X Reitoria, seus seguranças e asseclas da União Nacional dos Estudantes e da Central Única dos Trabalhadores.



Através de diretrizes para o Plano Diretor e chantagens e pressão em reunião às portas fechadas com Direções de algumas Unidades, a Reitoria tenta materializar sua assinatura em Brasília. Para atender aos critérios e metas, cursos novos como Relações Internacionais, Saúde Coletiva, Terapia Ocupacional, Bacharelado em Ciências Matemáticas e da Terra, Design aparecem no cenário acadêmico.



Mudanças dessa magnitude requerem amplas discussões com o conjunto da Universidade e também da sociedade. Por conta do entendimento derrotista nos debates sobre os futuros da Educação na UFRJ, a Reitoria ignora esse apelo, enquanto o Movimento Estudantil promove um Plebiscito com 95,38% de contrariedade ao REUNI com quase 5000 participantes, a Congregação da Faculdade Nacional de Direito aprova defesa de Plebiscito das Unidades para decisão acerca da transferência para a Cidade Universitária, a Faculdade de Educação promove reuniões públicas que se colocam contrariamente ao método e ao conteúdo das reformulações, o Colégio de Aplicação reúne seus professores e debate com qualidade sobre concepção educacional.



Voltando ao 12 de junho, identificamos os limites do Conselho Universitário da UFRJ para ampliar a participação de discussão e de decisão para o conjunto da comunidade acadêmica. A vivência institucional estará comprometida enquanto o conservadorismo mantiver suas posições para defender o status quo. É impossível que decidamos quaisquer questões referentes à criação de novos cursos, diretrizes para o Plano Diretor ou qualquer outro ponto relacionado ao DECRETO 6096-07 sem que se pense uma nova metodologia para as decisões na UFRJ, que impliquem cronograma de debates, Plebiscitos, Congresso Interno deliberativo e universal etc.



Quase 100 estudantes participaram da manifestação e inviabilizaram mais uma Sessão do CONSUNI. Se a arbitrariedade do Governo Lula, da Reitoria e dos setores governistas como a UNE, a CUT e o Centro Acadêmico Carlos Chagas—que, ao se pronunciar, comparou o DCE Mario Prata à Tropa de Choque da Polícia que lançara bombas sobre os manifestantes em defesa dos Hospitais Universitários, manchando a história do CACC, que já esteve na vanguarda das lutas em diversos momentos—continuar, a luta adversa precisa se fortalecer. Não devem ser feitas reuniões de cúpula da Reitoria com as entidades como o DCE, a AdUFRJ ou o SINTUFRJ, mas amplos debates com a presença desses setores em cada Unidade, chamando seus atores para protagonizar a mudança.



A UFRJ deve retomar o espírito combativo do maio de 1968. Ousadia, coragem, participação e luta precisam diariamente conquistar corações e mentes para operarmos a contrariedade aos rumos bancomundialistas da Educação e apresentarmos a nossa proposta, o nosso projeto, construído coletivamente para dialogar com e superar a realidade cruel da sociedade desigual em que vivemos.



Em vez de presentes para namorados e namoradas, congratulações aos lutadores que não se rendem ao pragmatismo e nos fazem recordar as mensagens de que podemos ser realistas, exigindo o impossível.


*Gabriel Rodrigues Daumas Marques

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