terça-feira, 19 de julho de 2016

NOTA DO MOVIMENTO QUEM VEM COM TUDO NÃO CANSA SOBRE A OCUPAÇÃO DA PRAIA VERMELHA



Na última quarta (13/07), o movimento estudantil da UFRJ deliberou pela ocupação da área do campinho, no campus Praia Vermelha, que havia sido cedido pela Reitoria à Polícia Federal , como coordenadora de operações, para servir de base estratégica para as ações da Polícia Rodoviária Federal, no que tange a política de proteção e acompanhamento dos chefes de Estado durante os Jogos Olímpicos.

Para nós, a assinatura deste contrato caminha na contramão do que deveria ser a função social da universidade em relação ao momento que vivemos, de intensificação da violação dos direitos humanos; privatização e elitização da cidade; criminalização da pobreza e dos movimentos sociais; ataque ao direito básico de moradia, através de políticas de remoções compulsórias; aprofundamento da lógica do esporte mercadoria/espetáculo e tudo isso, em função dos Jogos Olímpicos.

Por isso, o comprometimento da universidade deve ser com os grandes temas da sociedade, a partir dos interesses dos povos, promovendo reflexões e ações concretas, através de debates e intervenções conjunta e justamente com aqueles atingidos por essas políticas, com os movimentos sociais que trabalham em conjunto com essas pessoas e não servir como parte de sustentação prática das operações do aparato repressivo do Estado.

Entendemos que a ocupação cumpre o papel de impedir que a UFRJ compactue com as violações de direitos impostas pela lógica dos megaeventos, que desapropriam, reprimem e pioram a condição de vida da maior parte da população da cidade. Essa ocupação deve denunciar o papel dos megaeventos, da falácia do “legado”, que suga recursos públicos para benefício de especuladores, às custas da maioria esmagadora da população. Os gastos com os Jogos Olímpicos (R$ 39,1 bilhões) são treze vezes maiores, por exemplo, que a reivindicação nacional do movimento estudantil de 3 bilhões para o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).

A ocupação do campinho da Praia Vermelha tem também um papel a cumprir dentro da Universidade. É o momento de intensificar a pressão para que a reitoria cumpra seu programa de campanha, especialmente nos seus dois principais pontos: Governo Compartilhado e Assistência Estudantil.

O primeiro diz respeito à participação de todo o corpo social nas decisões acerca dos rumos da universidade, rompendo com a prática de decisões centralizadas e distantes da realidade da maior parte dos indivíduos de cada segmento acadêmico. A comunidade deve ser protagonista das decisões, podendo optar por aquilo que é prioridade para a nossa universidade.

A decisão da assinatura do termo de cessão de um espaço da UFRJ para a Polícia Federal é um sintoma da ausência de governo compartilhado. Em nenhum momento essa discussão foi levada à comunidade acadêmica. Portanto, é importante que a Reitoria se pronuncie, tanto em relação ao conteúdo do termo assinado – ou seja, o apoio prático a um evento desse porte e com essas características citadas acima, como a violação dos direitos humanos, a privatização e elitização da cidade, a política de remoções e tudo mais o que eles vêm acarretando – quanto ao método de decisão. Consideramos fundamental que a UFRJ construa um posicionamento acerca dos Jogos Olímpicos, abrindo espaços de discussão com a comunidade e com movimentos sociais para dar voz àqueles que vivem e sofrem diariamente por conta dos megaeventos. Além disso, é importante que a Reitoria assuma o compromisso de realizar o Congresso Universitário no segundo semestre de 2016, para que avancemos na democracia interna.

Com relação à Assistência Estudantil, é nosso papel pressionar para tirar do papel os avanços que tanto pleiteamos, como o aumento no valor das bolsas, a implantação de creches na PV e no Fundão, a iluminação imediata da área externa da EEFD e da Letras. Tudo isso é muito importante. Entretanto, no atual cenário político nacional, é necessário que a UFRJ, mais do que nunca, seja um contraponto real às políticas do governo federal ilegítimo, que já se manifestou pela intensificação dos ataques à educação, apresentando uma agenda ainda mais devastadora que a agenda dos governos petistas que vínhamos enfrentando no período anterior, como o aprofundamento do contingenciamento de verbas; a abertura de espaço para o reacionário projeto “escola sem partido”; o pronunciamento favorável sobre a cobrança de mensalidade nas universidades públicas.

Por isso, também é preciso que juntemos força para pressionar pelos 3 bi para o PNAES, o que nos permitiria avançar muito mais na execução das políticas. Assim, é importante que a Reitoria seja uma porta-voz dessa luta, chamando as demais IFES para a discussão do tema, para que juntas possam pressionar o MEC e também denunciar o governo golpista.


Na nossa avaliação, a força da ocupação se expressa em um momento de inflexão nas políticas da maior universidade federal do país, abrindo caminhos que até então se encontravam bloqueados, ou no mínimo, com muitos obstáculos para que fossem percorridos. Debates que estavam sufocados, como por exemplo, o debate fundamental da realização prática do governo compartilhado, hoje ganham a devida atenção, e que em nossa avaliação podem apontar para um caminho de conquistas. Dizemos isso pois sabemos que só avançaremos a partir do momento que estudantes e técnicos administrativos sejam entendidos enquanto parte ativa de fato das reflexões e ações da UFRJ. Mas é necessário firmeza para garantir nossas vitórias. Seguimos fortes na construção da ocupação, dia a dia. Junte-se à ocupação do Campinho da Praia Vermelha!


terça-feira, 26 de abril de 2016

DERROTAR A DIREITA: NEM O GOLPE DE GOVERNO DE TEMER E CUNHA E NEM O AJUSTE DE DILMA. A SAÍDA É PELA ESQUERDA! NAS UNIVERSIDADES, NENHUM DIREITO A MENOS. CONTRA OS CORTES E POR MAIS ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL.

Acompanhamos o estarrecedor processo que ocorreu na votação de admissibilidade do processo de impeachment da presidenta e é fundamental compreender esse processo e traçar os caminhos da luta a partir daí.
            Para nós, o projeto conciliador do PT não satisfaz mais os desejos dos grandes empresários e banqueiros que, com seus representantes no Congresso, estão organizando a manutenção do poder pela derrubada institucional do Governo. Aliado ao que há de mais conservador no país – Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro, Marco Feliciano – Michel Temer já começa a organizar o seu mandato trazendo como projeto a chamada “Ponte para o Futuro”, uma agenda que retrocede e muito nos direitos sociais e trabalhistas, aprofundando o Ajuste Fiscal e arrochando a classe trabalhadora. O projeto do PMDB visa, inclusive, privatizar as universidades públicas por meio de pagamento de mensalidade!Por isso  contra o impeachment.
            O que está no porvir é tenebroso. Entretanto, isso não nos faz, de forma nenhuma, sair em defesa do indefensável governo Dilma/PT, responsáveis pelo atual Ajuste Fiscal, pelos cortes nas áreas sociais, pela Lei Antiterrorismo e pela criminalização da pobreza e extermínio da juventude negra nas periferias.
É do Governo a autoria do PLP 257 que prevê, entre outras medidas, a suspensão dos concursos públicos, fim das progressões e o congelamento do salário mínimo. Foi esse Governo que cortou, desde 2015 até os dias atuais, cerca de 15 bilhões da Educação e que não aumenta para 3 bilhões o repasse para o PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil).

Se o futuro é sombrio, nossa saída é pela esquerda! Sem Temer e sem defender Dilma, é preciso construir desde já nossa resistência dentro e fora da UFRJ!

Nesse sentido, não há outro tema que hoje mobilize mais as e os estudantes da UFRJ que não seja Assistência Estudantil. É flagrante o descaso do Governo Federal no que tange à Assistência. Enquanto a verba para a construção de estádios para a Copa do Mundo e das instalações para a Olimpíada não se esgotam, os recursos para o custeio daquilo que é nosso direito já não contemplam a necessidade das universidades há muito tempo!
Hoje, nossa universidade tem cerca de 10% dos alunos recebendo bolsas auxílio ou moradia, quando a demanda é inúmeras vezes maior. A cada ano, o número de estudantes que as solicitam cresce e a universidade é incapaz de atender. Mas Assistência não é só bolsa! É moradia, alimentação, transporte, saúde, cultura, lazer, creche... e continuamos sem bandejão na PV, no Centro, Xerém e Macaé; a demanda por moradia só cresce, o atual prédio tem tempo que não dá contae a reforma do bloco em curso, mais uma vez, teve sua entrega adiada; os ônibus internos andam lotados e são insuficientes; enfim, a lista é longa!
Nossa tarefa é mobilizar cada estudante da UFRJ na luta intransigente pela Assistência Estudantil, pelos 3 bilhões para o PNAES e para que a Reitoria cumpra sua promessa de priorizar a Assistência. Vemos as obras do prédio do LADETEC (sede do antidoping da Olimpíada) e dos campos de Rugby e Hóquei praticamente prontos, mas não temos Alojamento, nem bandejões em todos os campi, nem bolsas, nem saúde, nem lazer. É preciso inverter esse polo! Nossas propostas são:

·                    Contra o impeachment! Construir um campo de oposição à direita e ao governo!
·                    Mobilizar toda a UFRJ em torno da Assistência Estudantil!
·                    Pressionar a Reitoria para que inverta a prioridade! Queremos a entrega do Alojamento e dos bandejões!
·                    Cobrar a realização imediata de Audiência Pública acerca do convênio entre UFRJ e COI/COB/Min.Esporte e sobre a utilização e circulação no Fundão durante os Jogos Olímpicos!

NA LUTA POR ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL! COM TUDO, SEM CANSAR!

Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa! 
fb.com/quemvemcomtudonaocansa 

terça-feira, 29 de março de 2016

NA LUTA POR DIREITOS E PELA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, CONSTRUINDO A UNIDADE

Nota de Conjuntura do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa
Estamos vivenciando uma forte crise política no país, originada de uma crise econômica mundial que ressoa intensamente no Brasil, a partir de 2015, e que intensificou o ataque aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras por parte do Governo Federal, precarizando demasiadamente as condições de vida. Isso ocorre pela necessidade do governo de atender a demanda do grande empresariado, banqueiros e agropecuários, garantindo suas condições ótimas de exploração.
No ano passado, por exemplo, o governo Dilma/PT, em seu primeiro ano do segundo mandato, executou uma firme política econômica de austeridade – o chamado Ajuste Fiscal – que se materializou, entre outros casos, nos cortes de verbas maciços nas áreas sociais (a pasta da Educação perdeu R$ 12 bi) , nas mudanças nas regras de aposentadoria e no acesso aos direitos da previdência (MP’s 664 e 665). Neste ano, um novo corte orçamentário está previsto, além da Reforma da Previdência e do retorno da CPMF.
Dentro das universidades, essa crise se materializa na situação dramática da Assistência Estudantil. Com as novas formas de acesso e a Lei de Cotas, o perfil dos e das estudantes universitários se alterou, mas a Universidade, com recursos contingenciados, não tem condição de atender toda essa demanda. O resultado é que o falso projeto de democratização do acesso se esvai, já que quem entra não tem condições de permanecer. As bolsas são insuficientes e o PNAES está muito longe de ter seus eixos atendidos por falta de verba. Nesse cenário de crise, os primeiros atingidos, junto com os trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas, são estudantes cotistas e/ou com perfil PNAES, que em sua maioria são negros e negras.
Entretanto, para os setores dominantes, esse Ajuste não é suficiente. Para eles, há a necessidade de se arrochar ainda mais, por isso a tentativa de derrubar o governo do PT, via impeachment, para que assumam de vez o poder para implementar uma política econômica ainda mais danosa. Nós fazemos oposição de esquerda ao governo do PT, desde a fundação do movimento, em 2005, contudo achamos que a saída da presidente Dilma nos coloca em uma situação muito pior para continuarmos em luta e os ataques serão brutais.
Nesse sentido, apontamos a necessidade da construção de um campo que lute unificadamente contra a política de Ajuste Fiscal e, contra os ataques aos direitos trabalhistas, sem fazer a defesa do indefensável governo do PT, denunciando seu caráter neoliberal e nem se alinhando aos setores conservadores que pedem a cabeça da presidente. Estamos apostando na construção de uma frente de esquerda que unifique nacionalmente todos os setores de luta, a partir dos elementos citados, conforme apontado por uma reunião realizada nesses termos, no dia 23 de março, no Rio de Janeiro.
Nas universidades, apontamos também a necessidade da unidade dos estudantes para avançar nas lutas e conquistas. Dessa forma, nos colocamos à disposição para construir frentes, chapas e movimentos que coloquem a Assistência Estudantil na centralidade das lutas, como fazemos há muito tempo.
Rio de Janeiro, 26 de março de 2016

sábado, 26 de março de 2016

SOBRE O ÚLTIMO CONSELHO DE CAs DA UFRJ E A CALOURADA DO DCE UFRJ MARIO PRATA

Na última quinta-feira, 17/03, 36 centros e diretórios acadêmicos se reuniram para discutir e construir a recepção dxs calourxs a ser realizada pelo DCE MARIO PRATA na segunda e terceira semanas de abril. Na oportunidade, todo estudante pôde apresentar sugestões de temas para nortear os debates da recepção.
Praticamente todas as falas de abertura discorreram sobre a crise que vivemos, à qual o governo vem respondendo com o Ajuste Fiscal e com a contínua supressão e violação de direitos. Foi justamente por conta das políticas do governo federal que, no ano de 2015, fizemos uma longa greve em conjunto com docentes e servidores técnico-administrativos.
Temos acordo que o prosseguimento desse debate tem importância fundamental para a universidade.
Por conta disso, defendemos no Conselho de CAs que a calourada do DCE expressasse essa crise e sua materialização dentro da Universidade, especialmente na Assistência Estudantil. Nesse cenário de cortes de verbas, os primeiros atingidos são sempre os estudantes que dela dependem para permanecer na Universidade. Propusemos a discussão da crise e sua relação com a não efetivação completa do PNAES, com o não aumento das bolsas (em quantidade e em seu valor), com a incapacidade de atendimento médico e psicológico, com a inexistência de creches para as mães estudantes, etc.
Nos últimos tempos, o tema da Assistência Estudantil ganhou centralidade na UFRJ, mobilizando estudantes e fazendo avançar sua organização para assegurar e conquistar direitos.
Entretanto, os coletivos que compõe conosco a direção do DCE direcionaram o debate da crise para fora da universidade, manifestando a prioridade na discussão da cidade, da cultura e da educação. Ainda que esses temas sejam muito importantes de serem debatidos, nos parece que a discussão de Assistência é – desde muito tempo – central para o Movimento Estudantil. Cabe ressaltar, inclusive, que na calourada 2015/2, o tema da Assistência Estudantil foi escolhido como eixo central, mas os espaços propostos não se concretizaram.
Logo, entendendo que a precarização da Assistência Estudantil é a materialização da crise dentro da universidade, esse deveria ser o principal tema a ser debatido com os calouros. Para nós, do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa, o debate de Assistência Estudantil não deve ser utilizado como uma questão “auxiliar” ou “acessória” para os coletivos que atuam no Movimento Estudantil. É necessário mobilizar a estudantada que entende cada vez mais a centralidade do tema. É disso que depende a construção de uma outra universidade, e de um Movimento Estudantil que atue fortalecido contra os setores comprometidos com o aprofundamento da reforma neoliberal.
Pautaremos nos nossos espaços de intervenção que esse debate seja o mais importante da recepção dos novos estudantes da UFRJ e convidamos os coletivos do Movimento Estudantil da UFRJ a fazerem uma reflexão acerca dos rumos da Assistência Estudantil em nossa Universidade.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Perguntas & Respostas sobre a Greve!

Mais de mil estudantes, de praticamente todos os cursos, presentes na Assembleia Geral de estudantes da UFRJ na última quinta feira dia 28/05/2015, decidiram por deflagrar greve estudantil na UFRJ. A partir daí muita coisa aconteceu! Por um lado, muitos cursos paralisaram totalmente, outros com muitas atividades de mobilização, paralisaram boa parte das aulas. Mas por outro lado, existe um cenário de incertezas, onde estudantes se encontram com muitas dúvidas acerca da possibilidade de nós, enquanto estudantes, podermos ou não fazer greve. Parte significativa deste sentimento vem da pressão exercida por parte dos professores e professoras que são contra a greve, sobre o movimento estudantil.

O Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa pensou num texto de perguntas e respostas sobre a greve estudantil para dialogar com o conjunto de estudantes da UFRJ e de outras universidades que, legitimamente, deflagrem greve estudantil. O objetivo é retirar algumas dúvidas e fortalecer esse movimento que pode e precisa crescer!


                     Mais de mil estudantes na deflagração da greve de 2015. Auditório Quinhentão, 28/5/15


           O que é a greve estudantil? Estudante pode fazer greve?

A greve, em termos gerais, é uma ferramenta de luta criada historicamente pela classe trabalhadora e pela juventude, utilizada para garantir que os interesses daqueles e daquelas que são exploradxs pelos patrões; que são “esquecidos” pelos governos; reitorias ou direções sejam garantidos. Para que direitos conquistados não sejam retirados e para que novos direitos sejam afirmados. É uma decisão política de se posicionar a partir de convicções políticas.

O movimento estudantil não vive sozinho na Universidade, portanto deve ser solidário às demandas das outras categorias, e em última instância, às demandas mais gerais da classe trabalhadora, mas deve se organizar principalmente a partir de suas próprias pautas, que não são poucas nem menores, principalmente após a contrarreforma realizada pelo governo Lula/PT, através do REUNI, onde a necessidade de políticas de assistência e permanência estudantil atinge um outro patamar, o da impossibilidade ou não de estudar. Por isso, cabe aos estudantes, e somente à elxs, decidir por uma greve estudantil. Diante de tamanha precarização da educação pública, o Movimento Estudantil pode e deve utilizar este instrumento de pressão para cobrar seus direitos sociais, direitos esses que vem sendo abertamente ignorados. Nossa organização enquanto categoria, a autonomia de nosso movimento e a justeza de nossas pautas garante total legitimidade neste processo, não precisamos da chancela ou autorização de ninguém para nos colocarmos em movimento.

            Porque o ME da UFRJ está em greve?

Há pouquíssimo tempo saímos de uma ocupação de reitoria, que garantiu uma série de vitórias no que tange a assistência estudantil, além de ter auxiliado nos passos da luta dxs trabalhadorxs terceirizadxs. A luta deste setor esta longe de estar resolvida, muitos e muitas ainda se encontram sem seus salários, seremos incansáveis! Mas a partir daquele momento em que desocupamos a reitoria, sabíamos que a continuidade de nossa luta se daria através da construção de uma grande greve, nacional. Depois de uma triste assembleia do corpo docente da UFRJ, na qual certamente depositávamos esperanças, construímos uma das mais cheias e representativas assembleias estudantis, a partir de nossas próprias pautas. Não podemos recuar.
Para o cenário de crise que se apresenta, a receita utilizada é a mesma de sempre: os setores que mais necessitam são os primeiros a responderem a chamada de quem vai pagar pela crise. Fora da universidade são os cortes de verba e retirada de direitos. Dentro da universidade as ameaças de corte de bolsas e secundarização das políticas de assistência estudantil! Temos que nos posicionar veementemente contra estes cortes: em defesa dos 10% do PIB para educação pública já e em defesa também de 2,5 bilhões para o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O que em nossa avaliação, pode assegurar a permanência de milhares de cotistas que hoje estão entrando e saindo da universidade.
As políticas de ajuste fiscal do Governo Dilma/PT representam exatamente o contrário disso que reivindicamos. Os cortes mais significativos são justamente das áreas sociais, principalmente saúde (11,7 bilhões) e educação (9,4 bilhões), e a previsão que temos é que em agosto ou setembro as universidades podem entrar em colapso e parar de vez por falta de verba. Pois então, paremos agora, para garantir que a universidade pública siga viva! Para isso, precisaremos de paridade em todos os fóruns colegiados; de mais bolsas; da equiparação de seu valor ao salário mínimo; da conclusão da obra do alojamento; conclusão da obra do complexo de moradia estudantil CT/CCMN; construção de bandejões em todos os campi; passe livre intermunicipal; transporte intercampi, além de todas as pautas específicas de cada curso e unidade!
Por tudo isso, nossa greve é inquestionável, e depende somente de nós ampliarmos ela, dialogando com cada amigo e amiga que tivermos, sobre o que temos a ganhar e a perder, convidando para as atividades da greve, e assim, juntos, garantir que nossos direitos não sejam sufocados por uma política que não nos representa.

     Mas como funciona essa greve estudantil?

Nossa greve tem que ser construída e ampliada na base, pela base, através das assembleias locais, de cada unidade. Só assim poderemos ter uma representatividade efetivamente legítima. Cada assembleia de unidade deve eleger 02 delegadxs e suplentes para compor o Comando Local de Greve Estudantil da UFRJ.
Este comando, onde delegados e delegadas, eleitas em assembleias gerais de unidade são revogáveis, realiza periodicamente assembleias, avaliando a conjuntura, dialogando com outras universidades em greve através de um comando nacional de greve estudantil; pensando estratégias e os rumos do movimento grevista. O fortalecimento desse instrumento de luta é o que pode garantir, para além da legitimidade da greve estudantil, deliberações nos conselhos e fóruns colegiados desta universidade, para que se suspenda o calendário acadêmico, além de garantir o direito de segunda chamada, reposição de prova e conteúdo.

  Quais são os exemplos históricos que temos?

A juventude sempre teve papel protogônico nos processos de luta ao longo da história. Maio de 1968 é um dos principais exemplos, momento histórico de diversas lutas ao redor do mundo, no período que marca o fim das três décadas de ouro do capitalismo. Estudantes estiveram à frente dos processos de luta lado a lado com a classe operária. Reivindicações que pareciam utópicas ou irrelevantes foram capazes de desencadear um profundo momento de questionamento geral da sociedade, e que em consonância com a luta operária, influenciou nas condições para uma greve geral e a possibilidade real de por em cheque toda a forma capitalista de organizar a vida.
Assim como, em outro exemplo, estudantes foram determinantes para a grande reforma universitária, no ano de 1918 em Córdoba - Argentina, que mudou toda a forma de se enxergar a universidade e até hoje se apresenta como uma referencia para todos os povos latino-americanos. Assim como foi a construção da Universidade Nacional Autônoma do México, que passa a utilizar este nome depois de garantir sua autonomia em 1929. Foi através da luta de estudantes, nos processos da reforma universitária mexicana, que esta vitória foi conquistada.



Em 2006, no Chile, aconteceu a chamada rebelião dos pinguins, que ganhou esse nome, devido aos uniformes brancos e azuis de estudantes secundaristas. Cerca de 600 mil estudantes foram as ruas para reivindicar melhores condições de ensino, causando a primeira crise do governo de Michelle Bachallet, mais à frente contaram com o apoio também de estudantes universitários, colocando cerca de um milhão de estudantes nas ruas, que aderiram à greve geral. Em 2011 novas e grandes mobilizações levaram a uma greve nacional estudantil, contra a privatização da Educação e em defesa do acesso gratuito ao sistema de ensino, que no Chile, ainda guarda traços da reforma feita pelo Ditador Augusto Pinochet!


E em 2012, não teve greve também? Qual foi o saldo?

Muito positivo! Os professores e técnico-administrativos entraram em greve em quase todas as Universidades federais do país, construindo um belíssimo movimento unificado. Os estudantes não ficaram atrás! A assembleia que deflagrou a greve estudantil em 2012 teve mais de 2 mil presentes.
Organizamos nossa luta a partir de um Comando Local de Greve, que unificou as pautas específicas de cada unidade e da UFRJ para negociar com a Reitoria e apontamos a necessidade da criação de um Comando Nacional de Greve Estudantil – por fora da UNE! – que levou nossas reivindicações para o então ministro Mercadante, que tentou se manter irredutível à negociação mas que voltou atrás dada nossa pressão!
Avançamos muito dentro da UFRJ! Foi vitória dessa greve, por exemplo, o aumento do número de bolsas auxílio e o reajuste do valor para os atuais 400 reais! Mas o nosso maior movimento nesse período foi a Ocupação Cultural do Canecão, espaço da UFRJ que vinha sendo utilizado pela iniciativa privada e que foi reconquistado na justiça após longa batalha. Entretanto a universidade não havia apresentado nenhum plano para o espaço do ex-Canecão.
Ocupamos durante um mês o espaço, tocando atividades de debate e cultura, formulando uma proposta de funcionamento público e sob administração do corpo social da universidade, para que o espaço funcione como fomentador de arte popular, contribuindo na formação de profissionais da área de artes e cultura. Nossa pressão acelerou o processo de retirada dos bens do antigo administrador e saímos com a promessa da reforma e construção da Arena Minerva de Música e Arte, de caráter público gratuito e de qualidade.
Podemos também considerar como saldo positivo da greve a experiência do CNGE, onde estudantes do Brasil todo construíram, pela base, uma alternativa de luta e organização das pautas de reinvindicação, pressionando o Governo Federal e garantindo conquistas. Por isso, defendemos a greve em 2015, sabendo que podemos conquistas muita coisa!

Bom, e o que se conclui desse processo?

Em suma, sem estudante a universidade seria um centro de pesquisas. Sem estudante, não existem processos de ensino-aprendizagem. Nós estudantes, devemos ter em mente que: a universidade pública se encontra em risco, nosso futuro também e que a greve nesse momento, é um instrumento mais do que legítimo para garantir a manutenção do caráter público e de qualidade da universidade. Entendemos que mudanças no calendário acadêmico são desconfortáveis, entretanto o momento é de lutar pela universidade pública e combater o ajuste fiscal, as medidas provisórias que retiram nossos direitos históricos, o PL 4330 (o PL das terceirizações) e os cortes de verbas que condenam estudantes a apenas duas opções: condições sub-humanas ou a evasão. Diremos não a estas duas! 

Escolheremos o caminho das lutas, da greve e da vitória. Vamos juntos, com tudo e sem cansar!


Contatos Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa:

Twitter: @quemvemcomtudo
Email: quemvemcomtudonaocansa@gmail.com
Fundão: Pedro (982728430), Julia (976322887)
Praia Vermelha: Diego (981501863), Rian (980909800)

sábado, 7 de março de 2015

MANIFESTO: POR UMA UFRJ AUTÔNOMA, CRÍTICA E DEMOCRÁTICA!

Por uma UFRJ autônoma, crítica e democrática!

As eleições pra Reitor e Vice Reitor estão se aproximando e nesse momento se abre um diálogo muito importante sobre a universidade, os rumos que vem tomando e seu futuro. 
Nos últimos 4 anos, muitas foram as investidas contra a universidade pública e contra os direitos historicamente garantidos, tanto por alunxs, quanto por professores e funcionárixs. A universidade vem perdendo, cada dia mais, seu caráter público, gratuito e de qualidade, local onde se produz conhecimento para a sociedade.
A iniciativa privada vem dando as cartas dentro dos nossos campi, financiando pesquisas, bolsas, ocupando terrenos e orientando as decisões políticas. A EBSERH é um exemplo claro das investidas privatizantes que rodeiam a UFRJ. E a comunidade acadêmica deu exemplo de luta em unidade para garantir Educação e Saúde públicos e gratuitos.
Nesse sentido, esses setores, que vem juntos defendendo a Universidade pública, estão lançando um Manifesto relativo à esse processo de sucessão, uma posição política de luta, de resistência, especialmente no momento onde não se apresentam propostas de ruptura com essa lógica mercantilista!
Lançaremos esse Manifesto na próxima TERÇA-FEIRA, às 15h no Quinhentão (CCS). O Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa​ chama toda a comunidade acadêmica para esse importante ato, de defesa do caráter irrestritamente público, gratuito e de qualidade.

MANIFESTO
Por uma UFRJ autônoma, crítica e democrática
A UFRJ é um precioso patrimônio público que materializa quase um século de produção de conhecimento e de lutas universitárias. De sua origem como escolas isoladas aglomeradas até a sua conformação como instituição estruturada pelo princípio da ‘unidade do diverso’ foram necessárias corajosas lutas, ousadia e extraordinária dedicação de seus estudantes, técnico-administrativos e professores para transformá-la na maior Universidade Pública Federal, referência e laboratório para importantes mudanças no modelo educacional superior brasileiro.
A fragmentação não foi o único obstáculo a sua constituição. O Estado sempre obstaculizou a real autonomia universitária. As diretrizes da contrarreforma de 1968 e da implementação da pós-graduação a partir de 1965, impostas de modo coercitivo, gestadas na ditadura, provocaram retrocessos na busca da unidade do diverso, em detrimento da organicidade da instituição.
Mesmo em um ambiente tão hostil, a UFRJ seguiu impetuosa em sua busca de autonomia, associada a original produção de conhecimento, a exemplo das lutas pela constituinte, enfrentando com seus movimentos representativos a ofensiva privatizante de Collor de Mello, a contrarreforma do Estado no período FHC, as tentativas de lhe retirar o direito de escolher seu Reitor e as mudanças previdenciárias no governo Lula, lutou em prol de carreiras docente e de técnico-administrativos que contemplassem as particularidades da vida acadêmica e impediu a contratualização com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Seus estudantes, organizados, compreenderam o sentido profundo da assistência estudantil para garantir a real democratização do acesso e da permanência dos estudantes na universidade, logrando lutas que pautaram de modo definitivo a questão. A despeito de toda a resistência, o Estado (e, na maioria das vezes, os governos) continua a tolher a liberdade acadêmica da universidade com seus processos de avaliação tecnocráticos, importados da gestão empresarial, orientados para o controle, o monitoramento e para a difusão de um ethos hostil à formação, à reflexão, à crítica e à criação que fundamentam a indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão. Da avaliação passa-se à fiscalização, monitoramento e ao controle do que é dado a pensar. Esses processos exigem desempenhos específicos que limitam a autonomia e a dirigem numa determinada direção. A universidade deve ser entendida como uma instituição complexa, dinâmica, diversa, auto-organizada por meio de seu autogoverno e de sua prerrogativa constitucional de autonormação. É na diversidade auto-organizada que a universidade se fortalece, resiste a ataques externos, se auto avalia, corrige os seus rumos objetivando cumprir suas elevadas funções sociais.
Todas essas lutas universitárias expressam um compromisso inarredável de sua comunidade com o porvir da universidade. De modo indissociável com a luta por sua autonomia, as atividades de ensino, de pesquisa e de extensão foram orientadas, no cotidiano das faculdades e institutos e de seus grupos de pesquisa, pela efetivação de sua função social como instituição comprometida com os problemas lógicos e epistemológicos da ciência, da arte, da cultura e das tecnologias, com a formação cientificamente rigorosa de seus estudantes e com o diálogo verdadeiro com a educação pública, os movimentos sociais do campo e da cidade que, legitimamente, demandam espaços comuns de aprendizagem. Desse modo, a UFRJ vem contribuindo para a solução dos grandes problemas dos povos, como a energia, a educação, a saúde, a problemática socioambiental, as questões urbanas e agrárias, a economia, os desafios tecnológicos diversos, promovendo avanços no conhecimento em domínios estratégicos nas biociências, nas tecnologias, nas chamadas ciências duras, nas ciências humanas e sociais e, não menos importante, nas diversas linguagens, articulando cultura, arte e ciência.
Como uma instituição dedicada ao pensamento crítico, a UFRJ não pode deixar de problematizar as consequências das políticas educacional e de Ciência e Tecnologia (C&T) da ditadura, inclusive a violência contra sua comunidade, confirmadas, em sua extensão, pelas comissões da verdade. Igualmente, não pode deixar de problematizar a adesão de setores universitários (dentro e fora da instituição) a medidas governamentais heterônomas e que buscaram perpetuar o modelo imposto desde os sombrios tempos ditatoriais. É importante destacar que tal apoio prosseguiu em um contexto que já não possibilitava as contradições positivas da expansão da pós-graduação nos anos 1970-1980, como o desenvolvimento da ciência básica e de áreas tecnológicas em domínios estratégicos. De fato, nos anos de neoliberalismo, as mudanças na forma de inserção do país na economia-mundo, em prol de mercadorias de baixo conteúdo tecnológico, redefiniram, em profundidade, a política dos governos em relação à função da universidade pública brasileira. O torniquete dos editais indutores e a prioridade conferida à inovação tecnológica, a rigor, pouca inovação e muito serviço, provocaram mudanças que exigiram a adaptação de determinados grupos de pesquisa (ou de setores destes) à nova realidade. No modelo universidade-empresa a heteronomia adentrou ainda mais os laboratórios, as salas de aula, a escrita acadêmica, refuncionalizando a universidade no sentido de transformá-la em uma organização voltada para a prestação de serviços e para a formação rápida e superficial de força de trabalho para postos de trabalho de modesta complexidade.
O projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) pretendia adequar as universidades aos moldes do Processo de Bolonha/ Universidade Nova, mas as lutas em todo país impediram tal objetivo. O legado positivo resultante dessas lutas foi a renovação, ainda que insuficiente, do corpo docente e dos técnicos-administrativos, a ampliação e diversificação do perfil social de seus estudantes e a abertura de novas instituições de ensino superior públicas. O REUNI, entretanto, significou uma expansão sem infraestrutura e, a despeito da importância dos concursos, ampliou o número de matrículas sem que o quantitativo de pessoal atendesse às novas demandas. Este quadro se repetiu na política de assistência estudantil que, por não ser universal, obedeceu a lógica das políticas focalizadas de alívio à pobreza, situação agravada pelo reduzido orçamento do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Desde 2012 não há recursos novos para as universidades federais, situação que expressa a ausência de prioridade para a educação superior pública: o eixo da atual política é a educação profissional aligeirada, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) e de subsídios públicos (FIES, ProUni) para as instituições privadas, distintamente do princípio que compartilhamos de que as verbas públicas devem ser aplicadas exclusivamente nas instituições públicas.
Diante desse cenário, alguns setores internos, percebendo que a universidade mudou, apoiam medidas governamentais que supostamente objetivam “proteger” os grupos estabelecidos, seja criando obstáculos desprovidos de fundamentos acadêmicos para a progressão na carreira (desejando criar uma aristocracia acadêmica), como visto na greve magisterial de 2012 e na regulamentação da carreira em 2014, seja propondo uma internacionalização subalterna e neocolonial, seja cedendo pessoal e patrimônio a uma empresa de direito privado, como é o caso da EBSERH. Em nome de uma suposta meritocracia, defendem a desigualdade e os privilégios.
Discordamos dessa alternativa!
Em nome da importância da UFRJ para o povo brasileiro, a opção é buscar o fortalecimento institucional da UFRJ em seu conjunto, incorporando todas as áreas de conhecimento e perspectivas teóricas e epistemológicas. Não se trata de salvar uma pseudoexcelência, promovendo uma meritocracia que desconsidera o mérito e fomenta a crescente subordinação do ensino, da pesquisa e da extensão aos interesses particularistas do mercado no capitalismo dependente. Não é essa a história da UFRJ! Longe disso, a força da UFRJ sempre foi o seu compromisso com a ciência, a cultura e a arte, em estreita articulação com os problemas dos povos. Existe uma importante tradição de compromisso da instituição com os trabalhadores que podem fazer do conhecimento um ato de consciência, emancipação e liberação, em síntese, uma arma da crítica.
Declaramos nossa disposição de fazer do atual processo sucessório um momento de profundas redefinições demandadas pela sociedade e, em particular, pela comunidade da UFRJ. A primeira grande mudança é realizar um visceral balanço histórico para orientar mudanças capazes de instituir um novo ordenamento institucional para a UFRJ, no âmbito da autonomia universitária assegurada constitucionalmente. A realização de um Congresso Universitário, pactuado por estudantes, técnico-administrativos e docentes, objetivando um processo estatuinte, é um primeiro passo para transformar as relações de poder internas. Defendemos que as mudanças possibilitem o governo compartilhado da universidade. Sustentamos que a nova conformação institucional da universidade possa favorecer o protagonismo de todos estudantes, técnico-administrativos e professores da universidade. A UFRJ já é um patrimônio da nação, mas pode mais, revitalizando o seu projeto para que possa aflorar o seu extraordinário potencial! A autonormação e o autogoverno da universidade são imprescindíveis. Não é outro o significado do Artigo 207 da Constituição Federal que assegurou a autonomia universitária!
A complexidade da produção do conhecimento e dos processos de ensino e aprendizagem exigem mudanças institucionais e na forma de organização social do trabalho. Atividades que exigem alta especialização, como os setores financeiro, de pessoal, de licitação e compras, escritório técnico, bibliotecas, secretarias e coordenações de ensino, segurança, entre tantos outros, precisam ser valorizadas na forma de atividades , regulares, permanentes, profissionalizadas, garantindo a institucionalização das mesmas no âmbito das unidades e da UFRJ. Os profissionais qualificados e dedicados que exercem essas atividades devem ser apoiados de modo sistemático e institucional, inclusive quanto à valorização salarial, carreira e programas de qualificação.
Os colegiados político-acadêmicos, sejam de unidades, sejam os superiores, não podem prescindir da contribuição estudantil que, em nosso projeto, compõe efetivamente o governo compartilhado da instituição, convertendo os colegiados em espaços horizontalizados e de criativas experiências democráticas.
Em contrapelo com as medidas em curso para a educação pública, mais do que nunca os povos necessitam de universidades críticas, capazes de realizar processos de formação e de produzir conhecimento novo, rigoroso, livre da tutela de governos e de corporações para que os grandes desafios da humanidade possam ser enfrentados em melhores condições. O conhecimento sobre o futuro da educação pública não pode estar vinculado aos interesses das corporações que atuam seja no chamado serviço educacional, ou em qualquer outra área. As interações, convênios e contratos com entes governamentais e privados têm de estar em conformidade com a autonomia universitária (e, por conseguinte, com as normas constitucionais da esfera pública) e com a ética na produção do conhecimento. Não compete à universidade suprir a ausência de departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento das empresas e, nesse sentido, criticamos vigorosamente os termos da lei de inovação tecnológica que buscam redefinir a missão institucional em prol da universidade como apêndice do capital operacional. O financiamento é público. Não pode ser autogerado pela venda de serviços porque a universidade é pública, nem proveniente de corporações, e nem advindo de cobrança de taxas aos estudantes da graduação e da pós-graduação em decorrência da gratuidade constitucional.
Recusamos um processo eleitoral que se limite a promessas de “choque de gestão” como um requisito para o futuro da universidade, discurso que somente serve de invólucro aos interesses particularistas e antiuniversitários dos que sustentam um projeto referenciado na ideologia da meritocracia. Recusamos, igualmente, um processo de formação de chapa que se reduz ao mero loteamento dos cargos, como se acordos com dirigentes estabelecessem lealdades eleitorais de suas ditas bases. Recusamos um processo de formação do futuro governo da UFRJ comprometido com os governos e interesses partidários a eles associados, em detrimento da autonomia universitária. A universidade é uma instituição em que todos fazem um uso crítico da razão e, por isso, repudiamos tais práticas arcaicas de formação do que deveria ser o autogoverno da universidade.
Esse convite é um ato político-acadêmico em prol da autonomia constitucional. Não podemos tolerar essas políticas do governo federal, crescentemente hostis à universidade pública e autônoma. Os enormes cortes orçamentários, como os feitos recentemente pelo governo, as pressões para a contratualização com a EBSERH, a inserção dos programas de fomento à C&T no âmbito privado-mercantil, por meio da EMBRAPII e da hipertrofia das fundações privadas, a política de terceirização, o intento de contratação de docentes e técnicos por meio de organizações sociais (privadas, em contratos regidos pela CLT), a imposição do FUNPRESP, inviabilizando a aposentadoria integral dos novos servidores, exigirão uma administração que seja capaz de dialogar com independência com os distintos âmbitos governamentais, e que, para isso, deverá ter como método o princípio do trabalho coletivo, escutando, dialogando com todo seu corpo social, fortalecendo o ativo protagonismo de sua comunidade, articulando, ao mesmo tempo, diversas forças sociais em prol da defesa da universidade pública socialmente referenciada.
O presente Manifesto é, nesse sentido, um convite para que cada estudante, técnico-administrativo e professor se engaje nesse debate, participando, ativamente das plenárias agendadas para a construção do programa que a UFRJ e o país necessitam e assegurando outra perspectiva quanto a função social da universidade.

Para assinar este manifesto, envie uma mensagem para manifestoufrj@gmail.com com seu nome, função (docente, técnico e administrativo, estudante) e Unidade na UFRJ.
Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 2015

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

PELA CONTINUIDADE DO PROJETO DE EXTENSÃO DA UFRJ, CLUBE DOS DESCOBRIDORES!


Localizado na Casa da Ciência, no campus da Praia Vermelha, o Clube dos Descobridores é um projeto de extensão da UFRJ, coordenado por uma pedagoga e conta com uma equipe de 4 estagiários, todos alunos de pedagogia e serviço social da UFRJ. O projeto recebe crianças e adolescentes, na faixa etária de 6 a 14 anos, de terça a sexta em dois turnos diferentes, no período de 9 até 17 horas. O Clube dos Descobridores é um espaço de educação não formal que, de forma lúdica, interativa e criativa, proporciona o encontro entre ciência, arte e cultura, promovendo situações de descoberta e aprendizagem, além de levar os participantes a exposições, teatros e museus. Os participantes são, em sua maioria, filhos de trabalhadores do entorno do campus, tais como empregadas domésticas, porteiros, e também filhos de alunos da universidade. Alguns dos participantes residem em comunidades na zona sul, e outros durante a semana ficam no local de trabalho de suas mães ou avós e nos finais de semana retornam para suas casas em bairros e comunidades da zona norte, zona oeste e baixada fluminense.
O gramado do Campinho, também localizado dentro do campus universitário, logo atrás da Casa da Ciência, historicamente foi utilizado pelo Clubinho, como o projeto de extensão também é chamado pelos participantes. Há uma passagem interna que liga os dois espaços. No início de 2014 esse acesso foi fechado e isso prejudicou a utilização do Campinho pelo projeto, pois para acessá-lo sem a passagem interna é preciso dar a volta no campus pela rua com as crianças e adolescentes, o que é bem mais perigoso. Em novembro do mesmo ano os responsáveis pelas crianças e adolescentes participantes do projeto, foram informados de que o espaço físico passaria por reformas e por isso o funcionamento, seria interrompido por dois dias e os materiais seriam guardados provisoriamente em outro espaço da Casa da Ciência, o toldo. No entanto, a reforma se estendeu por mais de dez dias e já ao final da primeira semana de reformas, a direção da Casa da Ciência comunicou que a sala não seria devolvida ao projeto e que o mesmo não continuaria em 2015. Segundo a direção, alguns técnicos estão de licença e, portanto, seria necessário que a pedagoga, coordenadora do Clubinho, passasse a auxiliar nas exposições periódicas da Casa da Ciência. Assim os estagiários seriam dispensados e o Clubinho fechado. Foi autorizado apenas que a equipe terminasse as atividades do ano no próprio toldo, onde os materiais já estavam guardados. Após a retomada das atividades os responsáveis pelos participantes do Clubinho foram comunicados e decidiram iniciar uma luta pela continuidade do projeto.
Uma das crianças participantes do Clube dos Descobridores presenteou o reitor, Carlos Levi,  com uma árvore de natal e cumprimentou o vice-reitor, Antônio Ledo. 
Os responsáveis pelas crianças e adolescentes fizeram um abaixo assinado pedindo que o projeto de extensão continue a funcionar com a mesma equipe, que tão bem o conduziu até o momento; a reabertura do acesso interno ao Campinho; e que ele permaneça no espaço em que atualmente se encontra, o toldo, pois é mais adequado às necessidades do projeto, mais amplo e refrigerado, reivindicações antigas da equipe de realização do projeto e também dos participantes e seus responsáveis.  O abaixo assinado já reuni mais de 200 assinaturas, dentre elas decanos, professores e alunos da universidade, moradores e trabalhadores do entorno do campus da Praia Vermelha, bem como das crianças, adolescentes e dos pais, mães e avós dos participantes do projeto de extensão.
Os responsáveis pelos participantes buscaram o apoio do sindicato dos professores, ADUFRJ, e também da representação estudantil DCE da UFRJ, DCE, e no último dia 11 fizeram um ato no Conselho Universitário (CONSUNI).  As crianças presentearam o reitor com uma árvore de natal, feita com técnicas de artesanato que aprenderam no projeto, e uma carta em forma de pergaminho, com seus pedidos de continuidade do projeto e relatos da importância do Clubinho para elas. Fizeram também cartazes de protesto que levaram para o CONSUNI. Nesse dia o Conselho Universitário aprovou uma moção de incondicional apoio a manutenção do projeto para o ano de 2015 no espaço da própria Casa da Ciência. Agora os responsáveis pelas crianças e adolescentes se preparam para uma reunião com a direção da Casa da Ciência.

O debate pela manutenção do projeto de extensão Clube dos Descobridores permeia a concepção de papel social da universidade. Muito além da exclusiva formação técnica, o ensino superior tem três objetivos fundamentais, a formação técnica/profissional sim, porém a iniciação à prática científica e a formação de uma consciência político-social também. A conjugação desses três objetivos, expressa a finalidade última da universidade, que é contribuir para a melhoria da vida humana em uma sociedade, na qual a cidadania seja garantida aos indivíduos e a democracia seja a mediadora das relações. A assistência social não é responsabilidade da universidade. No entanto, a universidade tem um compromisso com a sociedade, e esse compromisso é cumprido por meio do ensino, da pesquisa e da extensão que permitem compreender e estabelecer relações entre a universidade e a comunidade que a cerca. O ensino e a pesquisa formam um processo capaz de produzir análises e compreensões da realidade, porém articuladas a extensão geram conhecimento capaz de intervir na realidade e transformar a sociedade, sendo este um processo dinâmico e contínuo de melhoria das condições objetivas e subjetivas da vida em sociedade.  O projeto de extensão Clube dos Descobridores cumpre esse papel e compromisso social da universidade.


Durante o conselho universitário as crianças abriram no chão, uma carta em forma de pergaminho que fizeram para entregar ao reitor. No pergaminho escreveram sobre a importância do projeto e seus pedidos de continuidade do "Clubinho", como carinhosamente chamam o projeto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Eduardo Paes, nossas escolas não são fábricas!

             Nesta última semana a prefeitura do Rio de Janeiro lançou uma  campanha publicitária sobre seu projeto “Fábricas de Escolas do Amanhã”. Essa peça de propaganda mostra o desenho de alunos da rede municipal sentados em carteiras sobre a esteira de uma linha de produção, deixando claro qual o seu projeto de educação para o município: a formação de alunos de forma aligeirada, adaptada às necessidades do mercado de trabalho e que não o coloca a pensar de forma crítica e autônoma a sua realidade.



          O projeto educacional assumido por Eduardo Paes e sua equipe da Educação – antes, Claudia Costin, consultora do Banco Mundial; hoje, Helena Bomeny – vem sendo duramente criticado pelos docentes da Rede Municipal. A política para a Educação Pública, que vai da forma como se valoriza e remunera os profissionais à concepção de currículo e formação, é considerada como altamente precarizante. Esse sentimento generalizado ficou demonstrado com o retorno às ruas do movimento dos profissionais da Educação, que realizou uma grande greve após quase vinte anos. Tem sido forte a mobilização da categoria.

        Contudo, a imagem veiculada pela propaganda da prefeitura do Rio não é nova. Ela já havia sido reproduzida no clip da música do Pink Floyd, “Another Brick in the Wall”, de 1979. Com um olhar diametralmente oposto àquele do Palácio da Cidade, a canção critica os métodos coercitivos na escola, especialmente pelo fato dos estudantes cada vez mais serem “fabricados” por procedimentos de desumanização, além dos uniformes e máscaras que apagam as individualidades pessoais e os diferentes rostos e emoções. Para completar, a esteira leva a um moedor de carne, onde os estudantes viram uma grande carne moída. O título da canção traduzida seria “apenas outro tijolo na parede”. No clip, uma crítica; na campanha da prefeitura do Rio de Janeiro, a infeliz realidade que o município vê implementa nas escolas. 



           A ideia dessa “linha de produção” também foi utilizada no Encontro Regional de Estudantes de Educação Física de 2011, realizado no Espírito Santo, quando xs estudantes questionavam o modelo de formação profissional, não só em Educação Física. Na arte principal do Encontro vemos indivíduos entrar numa máquina como pessoas e sair como robôs, numa alusão à atuação padronizada, acrítica e idiotizada, tal como requer o mercado de trabalho; trabalhadores que executem e que pensem apenas o necessário para tocar o maquinário.



       Como professores em formação e estudantes universitários, vivemos essa contradição diariamente. Nossa formação é reduzida e acelerada para que, quando estivermos na docência, façamos o mesmo. Porém, organizadxs e pensando coletivamente vamos encontrar respostas e soluções para esses problemas que estão postos. Precisamos avançar na consciência e pensar em qual educação nós queremos.

             Lutamos por uma formação de qualidade para xs futuros professores, procurando garantir uma formação efetivamente humana, ampliada e que nos garanta o maior leque de intervenções. E também lutamos contra essa política meritocrática e mercadológica colocada em prática não só pela descarada e desavergonhada prefeitura do Rio.

Quem vem com tudo na luta por uma Educação de qualidade não cansa!

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Radicalizar e avançar nas conquistas: Assistência Estudantil não é favor, é DIREITO!

Nas últimas semanas, esquentou o debate sobre assistência estudantil na UFRJ, por conta do descaso e descumprimento dos encaminhamentos por parte da Reitoria da Universidade, que não se preocupa com a vida dos estudantes, especialmente daqueles que precisam e dependem da assistência para permanecer estudando!

O bandejão da Letras ainda encontra-se fechado, sem previsão para abertura. No Consuni do dia 8 de maio, quando o DCE Mário Prata puxou um ato, como parte da campanha “Assistência Estudantil não é favor, é direito!”, a Reitoria informou que até dezembro, Xerém e Praia Vermelha terão seus restaurantes, mas em contêineres! Macaé tem previsão de abertura em 8 anos e o Centro da cidade, que abriga IFCS e FND, acreditem, não tem previsão!

O alojamento continua abandonado! A reforma engatinha, enquanto isso apenas 250 estudantes tem residência na Universidade. O prédio novo não fica pronto, entretanto o prédio que vai abrigar o exame antidoping das Olimpíadas, que teve início recente e fica em frente ao novo alojamento, já está em fase final de construção. Vários estudantes estão sendo obrigados – quando conseguem, pelo valor alto do aluguel e baixo das bolsas – a alugar uma residência fora do campus, em geral em condições inadequadas.

As bolsas são outro tema que a Reitoria vive a iludir a estudantada. Constantes atrasos no pagamento, além de terem um valor que não condiz com a vida numa das cidades mais caras do país! Além disso, é um completo absurdo chegarmos ao final do primeiro semestre sem o resultado da seleção para bolsa-auxílio! E nós, ficamos a ver navios?!

Precisamos encarar o descaso da Reitoria de forma mais consequente: radicalizar nas ações do Movimento Estudantil! A construção de Grupos de Trabalho pela Reitoria e o direcionamento para a burocracia institucional só fazem enrolar os estudantes e não resolvem os problemas! A história nos mostra que só arrancamos as vitórias com muita luta e muita mobilização!

É preciso colocar a Reitoria na parede: E aí, Levi?

            Se depender da vontade da Reitoria, a assistência não vai entrar em pauta, ainda mais que, no meio do próximo ano, novas eleições para a administração central serão feitas. 2014 é o ano de garantir conquistas!

- Pela gratuidade no bandejão para todos, com início imediato para quem recebe Bolsa Auxílio e Bolsa Acesso e Permanência;

- Pelo aumento no valor das bolsas de todas as modalidades, equiparando a um salário mínimo; multa em caso de atraso no pagamento!

- Pela abertura imediata do bandejão da Letras e início da construção do bandejão em todos os campi! Bandejão em contêiner, NÃO!

- Pelo início imediato da reforma do Alojamento e inauguração do novo prédio;

- Respeito aos estudantes: seleção da Bolsa Auxílio não pode demorar um semestre! Divulgação dos resultados em, no máximo, um mês!

- Pela abertura imediata de creches universitárias que contemplem as estudantes mães!

- Não ao PNE de Dilma/PT;

- Por mais verbas para Assistência Estudantil!


Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa

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