No mês de maio teve inicio a
maior greve dos últimos anos nas Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES). Tendo como estopim a mobilização de docentes, estudantes e funcionários
se unificaram a greve que já toma conta de mais de 95% das IFES em todo Brasil,
demonstrando que é só através da luta que podemos modificar o cenário da
educação em nosso país.
Avaliação
e Apontamentos da greve
A greve tem início com a
mobilização dos professores por pautas econômicas, como reajuste salarial e reestruturação
do Plano de Carreira, e também questionando as condições de trabalho nas
universidades. Por causa da precarização que vive a Universidade pública no
país, estudantes e funcionários se unificaram a greve em apoio aos docentes,
mas também com pautas especificas, colocando todo o projeto de educação do
Governo Dilma/Lula/PT em xeque e a mobilização num patamar superior ao inicial.
Anos e anos de cortes de verbas, implementação de políticas que sucateiam a
universidade e transferem verbas à iniciativa privada (Prouni, Parcerias
Publico-Privadas, Lei de Inovação Tecnológica, Sinaes/Enade, Enem, e em
especial o Reuni, que em 2012 completa 5 anos de implementação) não deixam alternativa
àqueles que lutam por uma Universidade publica, gratuita, de qualidade e
socialmente referenciada.
Em 2007, quando o Governo implementou,
via decreto, o Reuni, o movimento estudantil de luta se colocou contrário e disse
que o projeto tinha problemas e que trariam conseqüências muito negativas.
Cinco anos depois vemos a conseqüência no dia-a-dia com todos estes problemas que
já citamos anteriormente. Além disso, é importante frisar que o Reuni reordenou
o modelo do Ensino Superior com a criação de cursos genéricos e/ou de
terminalidade breve com orientação evidente de servir o mercado, e também,
acelerou o processo de privatização, já que as verbas para manutenção da
universidade diminuíram diante da sua “expansão”, abrindo assim espaço para
cursos pagos de extensão e pós-graduação e para projetos como a Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). A greve que vivemos hoje
expressa, certamente, um balanço da expansão desordenada implementada pelo
Reuni. Reivindicamos, aqui, a atualidade da luta contra esse programa e a
política educacional do governo, como viemos insistindo nos últimos períodos
contra a visão equivocada de que o Reuni já “havia passado” e não estava mais
em discussão.
É importante reafirmarmos a todo
o momento: nossa greve é de enfrentamento ao Governo Federal! A nossa greve é
contra as políticas do governo para educação. Hoje, além do enfrentamento
necessário com Reuni, isso se expressa na luta contra a aprovação do Plano Nacional
de Educação (PNE) do governo, que é o plano sistematizador de todas as
políticas que fizeram a Universidade chegar a esse estado no qual ela se
encontra. A Aprovação do PNE proposto pelo governo transforma em política de
Estado todas as políticas formuladas para educação desde o início do mandato de
Lula/PT, que, por sua vez, sistematizavam iniciativas fragmentadas formuladas
no governo FHC: transferência de verbas para a iniciativa privada,
subfinanciamento, ataque à autonomia na produção de conhecimento através de
parcerias público-privadas, nenhuma linha sobre a real expansão do acesso com
vistas à universalização do ensino superiro, continuidade da expansão sem
qualidade e voltada ao mercado, com cursos aligeirados e muitos outros. Além
disso, o Governo propõe 8% do PIB para educação até 2023. Precisamos defender
um PNE que esteja a serviço dos trabalhadores, que construa uma educação
publica, gratuita e de qualidade e que destine 10% do PIB para educação publica
já!
A precarização da
Universidade é nacional: falta de salas de aula, laboratórios, Restaurantes
Universitários, casa de estudantes e bolsas defasadas são realidade na maioria
das IFES do país. Isso é o reflexo de anos e anos de cortes de verbas para
educação e da implementação da Reforma Universitária de Lula/Dilma/PT. Por
isso, as pautas específicas da greve, que refletem problemas nacionais,
precisam também ser nacionalizadas: enfrentar essa política de destruição da
universidade é garantir bandejões em todos os campi das universidades, aumento
de bolsas, garantia de assistência estudantil e melhorias estruturais – e isso
precisa estar refletido de maneira unificada, e não apenas em pautas locais, na
construção e nas reivindicações da nossa greve. A nacionalização das pautas
especificas e a luta para conquistá-las é um forte caminho para garantir nossas
vitórias objetivas. Revertendo, no cotidiano das universidades, o cenário de
precarização e sucateamento da educação, estaremos avançando no sentido
contrário daquilo que se busca implementar com o Reuni e o PNE do Governo.
Assembleia estudantil na UFRJ com mais de 2 mil
As assembléias de categorias
mostraram o quão forte é nossa greve. Na assembleia que deflagrou greve
estudantil na UFRJ mais de 2 mil estudantes participaram. A partir daí,
sucessivos atos foram realizados. Um dos mais expressivos aconteceu durante a realização do
evento pró-capital Rio+20: o ato da Cúpula dos Povos, que contou com mais de 50
mil pessoas e uma grande coluna da greve nacional das IFES. Porém, sobretudo na
última semana, os atos têm se esvaziado de uma maneira geral. No Rio de Janeiro
tivemos exemplos muito concretos disso, identificados pela maioria dos vêm
construindo a greve: os diversos atos das categorias em greve marcados para
esta semana ficaram aquém do esperado. Isso acontece quando, no interior do
movimento grevista, há setores defendendo a caracterização de que não podemos,
no atual momento, priorizar a construção de assembleias e espaços políticos -
porque o momento de discussão e construção das pautas já estaria superado e o
centro de nossa intervenção, a que estaria disposto o conjunto dos envolvidos
com a greve, seria a realização insistente e sucessiva do maior número possível
de atos de rua. Não compactuamos com essa
caracterização, e temos colocado isso em todos os espaços de construção da
greve. A sua fragilidade se comprova, inclusive, com a identificação
irrefutável do esvaziamento de grande parte dos atos de rua.
Então,
o que fazer a partir do novo cenário da greve?
Achamos que esse novo
cenário é fruto de um desgaste natural da greve, que já ultrapassa um mês, mas
também de uma política equivocada na sua condução no período recente. O governo
vem apostando todas as fichas na desmobilização de nosso movimento: já
desmarcou reuniões com o comando nacional de docentes algumas vezes e nesta
semana desmarcou a reunião com o Comando Nacional de Greve Estudantil. Além
disso, o governo tenta dividir os segmentos ao tratar a greve e sua negociação
de forma separada, sabendo que assim pode nos desmobilizar, enfraquecer e
dividir nosso movimento.
Nossa
posição, portanto, é de que precisamos unificar concretamente os comandos de
greve! As pautas comuns devem ser negociadas com governo através do Comando
Unificado. Em relação à nossa mobilização, está claro que é preciso superar o
cenário de uma profusão de atividades desconectadas e fragmentadas, apostando
em um número menor de atividades unificadas e com maior peso e visibilidade. O
momento da greve é de radicalização e pressão para o início das negociações.
Por isso, precisamos começar a pensar em atos, mais concentrados e unificados,
que estejam à altura dessas tarefas. Um exemplo seria pensar um dia de atos nas
secretarias do MEC por todo país, coordenados, exigindo que o governo negocie. Precisamos
repensar nossa intervenção: nesse sentido, defendemos que, ao invés de construirmos
muitos atos que fiquem esvaziados, priorizemos a construção de atos unificados
entre os três segmentos que tenham o caráter de pressionar mais o governo e
forçá-lo a negociar.
O
Comando Nacional Estudantil fala em nome do movimento grevista! A UNE NÃO fala
em nosso nome!
Durante o período de greve,
vimos que a organização das categorias necessita de um instrumento mais dinâmico
para dar respostas políticas rápidas a novas situações que aparecem. A construção
dos Comandos de Greve é fundamental para organizar e unificar as lutas nesse
período. Percebemos que a construção desses comandos se deu de forma diferente
entre os segmentos. Enquanto docentes e funcionários construíram seu comando de
greve com auxilio de suas entidades gerais, respectivamente ANDES e FASUBRA, o
Comando Estudantil é construído já no enfrentamento contra a UNE, pois todas as
pautas políticas do movimento grevista se chocam com a entidade, braço do
governo no movimento estudantil e que defende todas as suas políticas.
Na primeira reunião do
Comando, realizada na UFRJ, defendemos a posição de que apenas o Comando de
Greve falava e negociava em nome do movimento e que a UNE não falava em nosso
nome. Os companheiros da Oposição de Esquerda da UNE (PSOL), buscando
pressionar o PSTU para não defender a resolução que citava a UNE (considerada
por eles ‘sectária’ e ‘desnecessária’) colocaram a resolução (aprovada) de que
nem a UNE nem a ANEL (nova entidade construída pelo PSTU) falavam em nome do
movimento grevista. Nós mantivemos, sem o apoio do PSTU (que inicialmente cedeu
à pressão do PSOL e propôs uma resolução genérica, que reivindicava o Comando
como legítimo e não citava a UNE), a nossa proposta e a defendemos na reunião.
Após a nossa defesa e a polarização que se construiu em torno ao tema com os
representantes da UNE (majoritária e oposição), que insistiam em não citar a
entidade na resolução, o PSTU abriu mão de sua proposta em favor da que
apresentamos.
A justeza de nossa posição e
a necessidade de uma resolução que desautorizasse explicitamente a UNE de falar
em nosso nome se confirmaram uma semana depois: a UNE traiu o movimento e foi
recebida pelo Ministro Mercadante em Brasília para negociar em nome do
movimento grevista, sem ao menos citar a necessidade de abertura de negociação
com as categorias em greve e seus legítimos comandos. Sabemos qual o papel da
entidade governista com isso: blindar o governo e frear as mobilizações, como
vem tentando fazer com a propaganda de que a aprovação dos 10% do PIB paraa
educação em 2023 nos marcos do PNE (que possui metas de precarização e
privatização da educação) foi uma vitória. Precisamos denunciar que não foi uma
vitória, reafirmando a pauta da greve que defende os 10% do PIB para educação
publica já! É preciso dizer em alto e bom som que somos contra o PNE do
governo, e que a UNE traiu o movimento ao fazer a reunião com o MEC (que não
recebeu nenhum comando de greve até agora). Afinal, ela não tem a menor
capacidade e autonomia para negociar nossas pautas com o governo que sustenta e
defende.
Nesse
momento o Comando fala em nosso nome! E quando acabar a greve?
Um debate franco que
queremos fazer com todos os estudantes é: como vai ficar nossa organização
depois que a greve acabar? O Comando Nacional existe para dar respostas unificadas
nesse momento e vemos sua necessidade diante da conjuntura. Porém, assim que
acabar a greve, o Comando deixará de existir e ficaremos novamente sem um
instrumento que nos organize nacionalmente. Nos períodos de luta mais acentuada,
percebemos com mais clareza a necessidade de uma entidade para organizar nossas
ações, mas também precisamos desse instrumento para organizar e unificar nossas
lutas diariamente. Os ataques dos governos são poderosos e precisamos de uma
ferramenta capaz de responder à altura. A ANEL tem muitas limitações, tanto
emseu programa como em sua política superestrutural e propagandística, o que
vem ficando claro nesse momento de greve. Não responde às tarefas que estão
colocadas para a juventude justamente por se fazer um instrumento superestrutural,
que acaba se consolidando como uma corrente do movimento estudantil e não uma
entidade concreta, capaz de concretizar e dar um sentido objetivo às nossas
lutas. Acaba, assim, se fragilizando e tornando-se uma ‘moeda de troca’ diante
das barganhas chantagens do setor majoritário da entidade e a Oposição de
esquerda da UNE, enquanto a luta corre e precisa de respostas. Por isso, é
fundamental que saiamos desse processo de greve com uma resposta organizativa
para os estudantes.
É necessário que façamos um balanço conseqüente de quanto
custa caro não possuirmos um instrumento capaz de organizar as lutas dos
estudantes e superarmos este entrave de nossa geração, criando uma nova
ferramenta que só pode existir e avançar a partir do enfrentamento com o velho e
burocratizado movimento estudantil representado pela UNE.
Ø Pela
Unificação concreta dos Comandos de Greve!
Ø Nacionalizar
as pautas especificas! Por Bandejão, Alojamento em todos os campi! Pelo
Reajuste das bolsas!
Ø O
Comando Nacional Estudantil fala em nome do Movimento Grevista! A UNE Não fala
em nosso nome!
Ø Por
uma Nova Entidade Estudantil!
Governo Dilma: a serviço dos empresários e banqueiros, ignora a greve nacional da educação
Coluna da Greve na marcha da Cúpula dos Povos: mais de 50 mil na rua!
Um comentário:
A educação é uma das coisas mais importantes que tem o país, e sempre há que lutar por ela.
Por boa sorte, minha escola de radiologia no rio de janeiro sempre ofereceu uma educação perfeita, sem nenhum tipo de problema.
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