Na
última quarta (13/07), o movimento estudantil da UFRJ deliberou pela ocupação
da área do campinho, no campus Praia Vermelha, que havia sido cedido pela
Reitoria à Polícia Federal , como coordenadora de operações, para servir de base
estratégica para as ações da Polícia Rodoviária Federal, no que tange a
política de proteção e acompanhamento dos chefes de Estado durante os Jogos
Olímpicos.
Para
nós, a assinatura deste contrato caminha na contramão do que deveria ser a
função social da universidade em relação ao momento que vivemos, de intensificação
da violação dos direitos humanos; privatização e elitização da cidade; criminalização
da pobreza e dos movimentos sociais; ataque ao direito básico de moradia,
através de políticas de remoções compulsórias; aprofundamento da lógica do
esporte mercadoria/espetáculo e tudo isso, em função dos Jogos Olímpicos.
Por
isso, o comprometimento da universidade deve ser com os grandes temas da
sociedade, a partir dos interesses dos povos, promovendo reflexões e ações
concretas, através de debates e intervenções conjunta e justamente com aqueles atingidos
por essas políticas, com os movimentos sociais que trabalham em conjunto com
essas pessoas e não servir como parte de sustentação prática das operações do
aparato repressivo do Estado.

A
ocupação do campinho da Praia Vermelha tem também um papel a cumprir dentro da
Universidade. É o momento de intensificar a pressão para que a reitoria cumpra
seu programa de campanha, especialmente nos seus dois principais pontos:
Governo Compartilhado e Assistência Estudantil.
O
primeiro diz respeito à participação de todo o corpo social nas decisões acerca
dos rumos da universidade, rompendo com a prática de decisões centralizadas e
distantes da realidade da maior parte dos indivíduos de cada segmento
acadêmico. A comunidade deve ser protagonista das decisões, podendo optar por
aquilo que é prioridade para a nossa universidade.
A
decisão da assinatura do termo de cessão de um espaço da UFRJ para a Polícia
Federal é um sintoma da ausência de governo compartilhado. Em nenhum momento
essa discussão foi levada à comunidade acadêmica. Portanto, é importante que a
Reitoria se pronuncie, tanto em relação ao conteúdo do termo assinado – ou
seja, o apoio prático a um evento desse porte e com essas características
citadas acima, como a violação dos direitos humanos, a privatização e
elitização da cidade, a política de remoções e tudo mais o que eles vêm
acarretando – quanto ao método de decisão. Consideramos fundamental que a UFRJ
construa um posicionamento acerca dos Jogos Olímpicos, abrindo espaços de
discussão com a comunidade e com movimentos sociais para dar voz àqueles que
vivem e sofrem diariamente por conta dos megaeventos. Além disso, é importante
que a Reitoria assuma o compromisso de realizar o Congresso Universitário no segundo
semestre de 2016, para que avancemos na democracia interna.
Com
relação à Assistência Estudantil, é nosso papel pressionar para tirar do papel
os avanços que tanto pleiteamos, como o aumento no valor das bolsas, a
implantação de creches na PV e no Fundão, a iluminação imediata da área externa
da EEFD e da Letras. Tudo isso é muito importante. Entretanto, no atual cenário
político nacional, é necessário que a UFRJ, mais do que nunca, seja um
contraponto real às políticas do governo federal ilegítimo, que já se
manifestou pela intensificação dos ataques à educação, apresentando uma agenda
ainda mais devastadora que a agenda dos governos petistas que vínhamos
enfrentando no período anterior, como o aprofundamento do contingenciamento de
verbas; a abertura de espaço para o reacionário projeto “escola sem partido”; o
pronunciamento favorável sobre a cobrança de mensalidade nas universidades
públicas.
Por
isso, também é preciso que juntemos força para pressionar pelos 3 bi para o
PNAES, o que nos permitiria avançar muito mais na execução das políticas.
Assim, é importante que a Reitoria seja uma porta-voz dessa luta, chamando as
demais IFES para a discussão do tema, para que juntas possam pressionar o MEC e
também denunciar o governo golpista.
Na
nossa avaliação, a força da ocupação se expressa em um momento de inflexão nas
políticas da maior universidade federal do país, abrindo caminhos que até então
se encontravam bloqueados, ou no mínimo, com muitos obstáculos para que fossem
percorridos. Debates que estavam sufocados, como por exemplo, o debate
fundamental da realização prática do governo compartilhado, hoje ganham a
devida atenção, e que em nossa avaliação podem apontar para um caminho de
conquistas. Dizemos isso pois sabemos que só avançaremos a partir do momento
que estudantes e técnicos administrativos sejam entendidos enquanto parte ativa
de fato das reflexões e ações da UFRJ. Mas é necessário firmeza para garantir
nossas vitórias. Seguimos fortes na construção da ocupação, dia a dia. Junte-se
à ocupação do Campinho da Praia Vermelha!
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