Mais de mil
estudantes, de praticamente todos os cursos, presentes na Assembleia Geral de
estudantes da UFRJ na última quinta feira dia 28/05/2015, decidiram por
deflagrar greve estudantil na UFRJ. A partir daí muita coisa aconteceu! Por um
lado, muitos cursos paralisaram totalmente, outros com muitas atividades de mobilização,
paralisaram boa parte das aulas. Mas por outro lado, existe um cenário de
incertezas, onde estudantes se encontram com muitas dúvidas acerca da
possibilidade de nós, enquanto estudantes, podermos ou não fazer greve. Parte
significativa deste sentimento vem da pressão exercida por parte dos professores
e professoras que são contra a greve, sobre o movimento estudantil.
O Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa
pensou num texto de perguntas e respostas sobre a greve estudantil para
dialogar com o conjunto de estudantes da UFRJ e de outras universidades que,
legitimamente, deflagrem greve estudantil. O objetivo é retirar algumas dúvidas
e fortalecer esse movimento que pode e precisa crescer!
Mais de mil estudantes na deflagração da greve de 2015. Auditório Quinhentão, 28/5/15
O que é
a greve estudantil? Estudante pode fazer greve?
A greve, em
termos gerais, é uma ferramenta de luta criada historicamente pela classe
trabalhadora e pela juventude, utilizada para garantir que os interesses daqueles
e daquelas que são exploradxs pelos patrões; que são “esquecidos” pelos
governos; reitorias ou direções sejam garantidos. Para que direitos
conquistados não sejam retirados e para que novos direitos sejam afirmados. É
uma decisão política de se posicionar a partir de convicções políticas.
O movimento
estudantil não vive sozinho na Universidade, portanto deve ser solidário às demandas
das outras categorias, e em última instância, às demandas mais gerais da classe
trabalhadora, mas deve se organizar principalmente a partir de suas próprias pautas,
que não são poucas nem menores, principalmente após a contrarreforma realizada pelo
governo Lula/PT, através do REUNI, onde a necessidade de políticas de
assistência e permanência estudantil atinge um outro patamar, o da
impossibilidade ou não de estudar. Por isso, cabe aos estudantes, e somente à
elxs, decidir por uma greve estudantil. Diante de tamanha precarização da
educação pública, o Movimento Estudantil pode e deve utilizar este instrumento
de pressão para cobrar seus direitos sociais, direitos esses que vem sendo
abertamente ignorados. Nossa organização enquanto categoria, a autonomia de
nosso movimento e a justeza de nossas pautas garante total legitimidade neste
processo, não precisamos da chancela ou autorização de ninguém para nos
colocarmos em movimento.
Porque o
ME da UFRJ está em greve?
Há
pouquíssimo tempo saímos de uma ocupação de reitoria, que garantiu uma série de
vitórias no que tange a assistência estudantil, além de ter auxiliado nos
passos da luta dxs trabalhadorxs terceirizadxs. A luta deste setor esta longe
de estar resolvida, muitos e muitas ainda se encontram sem seus salários,
seremos incansáveis! Mas a partir daquele momento em que desocupamos a
reitoria, sabíamos que a continuidade de nossa luta se daria através da construção
de uma grande greve, nacional. Depois de uma triste assembleia do corpo docente
da UFRJ, na qual certamente depositávamos esperanças, construímos uma das mais
cheias e representativas assembleias estudantis, a partir de nossas próprias
pautas. Não podemos recuar.
Para o
cenário de crise que se apresenta, a receita utilizada é a mesma de sempre: os
setores que mais necessitam são os primeiros a responderem a chamada de quem
vai pagar pela crise. Fora da universidade são os cortes de verba e retirada de
direitos. Dentro da universidade as ameaças de corte de bolsas e secundarização
das políticas de assistência estudantil! Temos que nos posicionar veementemente
contra estes cortes: em defesa dos 10% do PIB para educação pública já e em
defesa também de 2,5 bilhões para o Plano Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES). O que em nossa avaliação, pode assegurar a permanência de milhares de
cotistas que hoje estão entrando e saindo da universidade.
As
políticas de ajuste fiscal do Governo Dilma/PT representam exatamente o
contrário disso que reivindicamos. Os cortes mais significativos são justamente
das áreas sociais, principalmente saúde (11,7
bilhões) e educação (9,4 bilhões), e a previsão que temos é que em agosto ou
setembro as universidades podem entrar em colapso e parar de vez por falta de
verba. Pois então, paremos agora, para garantir que a universidade pública siga
viva! Para isso, precisaremos de paridade em todos os fóruns colegiados; de mais
bolsas; da equiparação de seu valor ao salário mínimo; da conclusão da obra do
alojamento; conclusão da obra do complexo de moradia estudantil CT/CCMN; construção
de bandejões em todos os campi; passe livre intermunicipal; transporte
intercampi, além de todas as pautas específicas de cada curso e unidade!
Por tudo isso, nossa greve é inquestionável, e depende somente de nós
ampliarmos ela, dialogando com cada amigo e amiga que tivermos, sobre o que
temos a ganhar e a perder, convidando para as atividades da greve, e assim,
juntos, garantir que nossos direitos não sejam sufocados por uma política que
não nos representa.
Mas como
funciona essa greve estudantil?
Nossa greve
tem que ser construída e ampliada na base, pela base, através das assembleias
locais, de cada unidade. Só assim poderemos ter uma representatividade
efetivamente legítima. Cada assembleia de unidade deve eleger 02 delegadxs e
suplentes para compor o Comando Local de Greve Estudantil da UFRJ.
Este
comando, onde delegados e delegadas, eleitas em assembleias gerais de unidade
são revogáveis, realiza periodicamente assembleias, avaliando a conjuntura,
dialogando com outras universidades em greve através de um comando nacional de
greve estudantil; pensando estratégias e os rumos do movimento grevista. O
fortalecimento desse instrumento de luta é o que pode garantir, para além da
legitimidade da greve estudantil, deliberações nos conselhos e fóruns
colegiados desta universidade, para que se suspenda o calendário acadêmico,
além de garantir o direito de segunda chamada, reposição de prova e conteúdo.
Quais são os exemplos
históricos que temos?
A juventude
sempre teve papel protogônico nos processos de luta ao longo da história. Maio
de 1968 é um dos principais exemplos, momento histórico de diversas lutas ao
redor do mundo, no período que marca o fim das três décadas de ouro do capitalismo.
Estudantes estiveram à frente dos processos de luta lado a lado com a classe
operária. Reivindicações que pareciam utópicas ou irrelevantes foram capazes de
desencadear um profundo momento de questionamento geral da sociedade, e que em
consonância com a luta operária, influenciou nas condições para uma greve geral
e a possibilidade real de por em cheque toda a forma capitalista de organizar a
vida.
Assim como,
em outro exemplo, estudantes foram determinantes para a grande reforma
universitária, no ano de 1918 em Córdoba - Argentina, que mudou toda a forma de
se enxergar a universidade e até hoje se apresenta como uma referencia para
todos os povos latino-americanos. Assim como foi a construção da Universidade
Nacional Autônoma do México, que passa a
utilizar este nome depois de garantir sua autonomia em 1929. Foi através da
luta de estudantes, nos processos da reforma universitária mexicana, que esta
vitória foi conquistada.
Em 2006, no
Chile, aconteceu a chamada rebelião dos pinguins, que ganhou esse nome, devido
aos uniformes brancos e azuis de estudantes secundaristas. Cerca de 600 mil
estudantes foram as ruas para reivindicar melhores condições de ensino, causando
a primeira crise do governo de Michelle Bachallet, mais à frente contaram com o
apoio também de estudantes universitários, colocando cerca de um milhão de
estudantes nas ruas, que aderiram à greve geral. Em 2011 novas e grandes
mobilizações levaram a uma greve nacional estudantil, contra a privatização da
Educação e em defesa do acesso gratuito ao sistema de ensino, que no Chile,
ainda guarda traços da reforma feita pelo Ditador Augusto Pinochet!
E em 2012, não teve greve também? Qual foi o saldo?
Muito
positivo! Os professores e técnico-administrativos entraram em greve em quase
todas as Universidades federais do país, construindo um belíssimo movimento
unificado. Os estudantes não ficaram atrás! A assembleia que deflagrou a greve
estudantil em 2012 teve mais de 2 mil presentes.
Organizamos
nossa luta a partir de um Comando Local de Greve, que unificou as pautas
específicas de cada unidade e da UFRJ para negociar com a Reitoria e apontamos
a necessidade da criação de um Comando Nacional de Greve Estudantil – por fora
da UNE! – que levou nossas reivindicações para o então ministro Mercadante, que
tentou se manter irredutível à negociação mas que voltou atrás dada nossa
pressão!
Avançamos
muito dentro da UFRJ! Foi vitória dessa greve, por exemplo, o aumento do número
de bolsas auxílio e o reajuste do valor para os atuais 400 reais! Mas o nosso
maior movimento nesse período foi a Ocupação Cultural do Canecão, espaço da
UFRJ que vinha sendo utilizado pela iniciativa privada e que foi reconquistado
na justiça após longa batalha. Entretanto a universidade não havia apresentado
nenhum plano para o espaço do ex-Canecão.
Ocupamos
durante um mês o espaço, tocando atividades de debate e cultura, formulando uma
proposta de funcionamento público e sob administração do corpo social da
universidade, para que o espaço funcione como fomentador de arte popular,
contribuindo na formação de profissionais da área de artes e cultura. Nossa
pressão acelerou o processo de retirada dos bens do antigo administrador e
saímos com a promessa da reforma e construção da Arena Minerva de Música e
Arte, de caráter público gratuito e de qualidade.
Podemos
também considerar como saldo positivo da greve a experiência do CNGE, onde
estudantes do Brasil todo construíram, pela base, uma alternativa de luta e
organização das pautas de reinvindicação, pressionando o Governo Federal e
garantindo conquistas. Por isso, defendemos a greve em 2015, sabendo que
podemos conquistas muita coisa!
Bom, e o que se conclui desse processo?
Em suma, sem estudante a universidade seria um centro de pesquisas. Sem estudante, não existem processos de ensino-aprendizagem. Nós estudantes, devemos ter em mente que: a universidade pública se encontra em risco, nosso futuro também e que a greve nesse momento, é um instrumento mais do que legítimo para garantir a manutenção do caráter público e de qualidade da universidade. Entendemos que mudanças no calendário acadêmico são desconfortáveis, entretanto o momento é de lutar pela universidade pública e combater o ajuste fiscal, as medidas provisórias que retiram nossos direitos históricos, o PL 4330 (o PL das terceirizações) e os cortes de verbas que condenam estudantes a apenas duas opções: condições sub-humanas ou a evasão. Diremos não a estas duas!
Escolheremos o caminho das lutas, da greve e da vitória. Vamos juntos, com tudo e sem cansar!
Contatos Movimento
Quem Vem Com Tudo Não Cansa:
Twitter: @quemvemcomtudo
Email: quemvemcomtudonaocansa@gmail.com
Fundão: Pedro (982728430), Julia (976322887)
Praia Vermelha: Diego (981501863), Rian (980909800)
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