segunda-feira, 2 de junho de 2014

Saudação do professor Ricardo Kubrusly ao Movimento Estudantil

O professor Ricardo Kubrusly, poeta e camarada de muito tempo, enviou essa saudação em forma de poesia, saudando o Movimento Estudantil da UFRJ pela recente vitória contra o autoritarismo, praticado explicitamente pelo diretor da EEFD, Leandro Nogueira.
Agradecemos profundamente o professor e companheiro, com votos de continuarmos juntos na luta por uma universidade pública, gratuita, laica, democrática e de qualidade!


Para os estudantes da UFRJ por ocasião do reconhecimento da autonomia do ME


A que se destinam as universidades, senão a pôr em discussão as diversas maneiras de se ser no mundo e levá-las pelas brechas das possibilidades e quebrar, com elas,  os muros que as separam e misturar ideias e ver no coletivo assim criado, o seu próprio movimento e segui-lo e empurrá-lo sempre nas direções de maior justiça social. A que se nos destinamos, senão a, misturados ao mundo e seu povo, perto e dentro dos acontecimentos, criar destinos e inventar o novo que se nos distingue e revoluciona esse estar no mundo em um perpétuo e desconforto. Mas quem é esse nós que em nós se movimenta e cresce em todas as direções e busca entre todas as vertentes, as  mais revolucionárias e transformadoras? Mas quem é esse  nós que em nós mais se desconforta e que radical avança, senão nossos estudantes e dentre deles os mais inquietos e desconformados, o nosso movimento estudantil. A ele devemos nossos melhores momentos e nossas saudades mais verdadeiras.

Nós professores cansados ou semicansados, que deixamos escapar, por  teorias e práticas que se nos são impostas e que muitas vezes pouco ou nada dela sabemos, nossos melhores momentos e nossas melhores ideias, que desistimos, a cada dia, cansados  e semicansados dos sonhos que nos moviam para  desesperadamente acostumarmo-nos aos  rastros  desentendidos que mesmo assim,  ainda nos servirão como consolo gula e destino. Internacionalissimamente desconectados, pensando ser apenas feitos de eus uniformemente iguais, o mundo em desencanto e desconforto que se nos cerca e exige com seus problemas, soluções, vivemos dentro de nossas universidades a pobre sina do escravo feliz que prefere unir-se ao opressor do que lutar por sua libertação. Sentados ou semissentados   quase sempre confortavelmente instalados, vivemos a crença de  importâncias que nem temos nem merecemos. Vivemos, nos nossos laboratórios e gabinetes projetos científicos que não olham e nem querem olhar a sociedade que nos cerca, acreditando sempre e sempre numa neutralidade confortável e igualmente inexistente do que insistimos em chamar de ciência, sempre no singular, sempre subserviente e sempre excluindo as diferenças de que somos feitos e que nos unem.

Saudamos pois, nesse cenário inóspito, nesse deserto de ideias e de homens, a decisão do Consuni que  reconhece a autonomia do ME. Fruto de nossas tantas lutas e de continuarmos sempre estudantes das ideias e vontades que gestamos juntos.


Prof. Ricardo Kubrusly (HCTE/UFRJ)

Nenhum comentário: