terça-feira, 21 de abril de 2009

Reportagem sobre a transferência da Faculdade de Educação para o Fundão*

*Folha Dirigida
Roberta Ribeiro - 21/04/2009

Faculdade de Educação vai mudar para o Fundão


A Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) será transferida para a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. A mudança foi aprovada pela Congregação da Faculdade de Educação (FE), durante uma reunião na última quinta, dia 16, e deve acontecer até 2012.

Entre os oito participantes da votação, cinco docentes foram favoráveis a mudança. A permanência no campus da Praia Vermelha obteve dois votos (um de professor e outro do representante dos técnico-docentes) e houve uma abstenção do representante dos alunos. Para que a transferência seja concretizada, haverá mais uma reunião da Congregação para estabelecer as condições para a mudança.

Atualmente, no campus da Praia Vermelha são oferecidas disciplinas para as licenciaturas em Ciências Biológicas, Educação Artística, Educação Física, Física, Geografia, Matemática, Música, Química, Enfermagem, Letras e Psicologia.

A transferência faz parte da proposta preliminar do Plano Diretor da UFRJ, como prevê a política de Centralidades e Integrações, que estabelece ainda a implementação de Centros de Convergência, a instalação da Área Central com ênfase nas edificações e espaços de uso coletivo. O objetivo dessa medida, justificado no projeto, é a reversão da dispersão, de modo que os espaços físicos fragmentados e sem conexões fossem ocupados pela comunidade acadêmica.

Os Centros de Convergência funcionariam num modelo similar ao dos bairros das cidades, a principal característica seria a oferta de várias atividades, serviços e comércio. Eles ainda estariam alinhados aos preceitos do tripé do ensino superior federal: o ensino, a pesquisa e a extensão. No entanto, os estudantes alegaram que todas essas medidas visam exclusivamente ao atendimento de metas do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) que, segundo eles contribuiria para uma redução da qualidade do ensino. A efetivação total do plano é 2020.

Durante a reunião, a representante discente, Luiza Colombo, leu um parecer feito pelos estudantes em contraposição ao memorando divulgado pela reitoria, que estabelecia os termos da transferência. No documento, os universitários argumentaram que o principal motivo do impasse é a precarização do ensino e, não o deslocamento físico. "... em nossa avaliação, consideramos que tal documento privilegia, de forma equivocada o aspecto físico/estrutural da formação de professores e professoras em nossa instituição, em detrimento dos aspectos político-pedagógico propriamente ditos".

Integrante do Diretório Acadêmico (DA) de Pedagogia, Gabriel Marques, também criticou a medida. "Alegam que 75% dos alunos da UFRJ moram na Zona Norte e Oeste e usam isso como uma das justificativas para a transferência; existem formas de resolver isso. Por exemplo, contratando ônibus para trazer os alunos. Que o valor das bolsas também sejam aumentados, para os alunos se alimentarem melhor. Na revista do Plano Diretor 2020 é possível ver que a meta da universidade é aumentar o número de aluno em 100%, porém, no caso dos professores o número de novas contratações seria de 50%", criticou Gabriel Marques.



Alunos defendem realização de plebiscito

Segundo Luiza Colombo, a proposta defendida pelos estudantes de Pedagogia era a realização de um plebiscito, no qual todos os alunos do cursos da Faculdade de Educação pudessem decidir pela ida para a Cidune, e a realização de um fórum de discussão para que toda a comunidade tivesse conhecimento das implicações da transferência.

"Temos de pensar na estrutura atual, é não no que virá. Esse é um projeto muito abstrato, com altos valores e suposto financiamento do Ministério da Educação (MEC). Não podemos ficar dependentes de empresas, mas pensar em ensino, pesquisa e extensão. Historicamente a UFRJ sofre com a falta de professores e técnicos-administrativos.

Infelizmente essas novas contratações de docentes não supre a deficiência atual. O presente da nossa faculdade não está sendo considerado. Devemos pensar em que queremos enquanto educadores", salientou Danielle Galante, integrante do CA de Pedagogia.

Danielle contou que no ano passado houve um plebiscito organizado por estudantes, no qual o índice de contrariedade do corpo discente acerca das reformas propostas pelo Reuni e a remoção da faculdade para o Fundão foi de 90%. Segundo ela, o número total de alunos da FE é de 2.500. A estudante ressaltou que nessa votação, os alunos dos cursos de licenciatura também participaram.

"Poderíamos ter votado a realização de um plebiscito, mas para isso regras deveriam ser definidas para que tenha validade. No entanto, isso já foi votado e acredito que essa questão esteja superada. Porém, em defesa da universidade pública de qualidade, também grito: escolão não! Faz parte das condições para a transferência que esse espaço continue sendo utilizado para a educação. Que não seja vendido, até porque é tombado como patrimônio histórico", argumentou a diretora da FE, Ana Maria Monteiro Ferreira Da Costa.

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