Alma trocada entre os delírios de deuses de todos os males, viu e desejou a trança de luz entre os caminhos do medo. Que, para além de 'esperávamos seus textos', admirávamos sua postura reflexiva e corajosa. Não basta perceber as diferenças e se inquietar com elas, há de se perguntar sobre a troca a que estamos dispostos a negociar com os nossos indizíveis, com o mundo pré-metafórico latente entre o dentro de si e o atemporal de nossas dúvidas. Perceber que em simples palavras não há simples palavras sem que todas sejam simples. E que, portanto, não existe conciliação possível entre o que eu deveras quero e o que eu gostaria de querer, para me sentir melhor. Melhor sempre seria que o que existe fosse, como numa segunda vida inexistente, num simulacro eletrofinanceiro, substituída por algo m-mais simples, m-mais milagroso, onde as contradições eterizassem-se em números somente, bônus de culpa, bônus de arrependimento,... mas que a troca se desse apenas no nível das indulgências remoto-controladas por seus alarmes incontestes e não, nunca, pelas urgências, as urgências que esperem nesse mundo eu. Por que? Por que o medo melhor do que a simplicidade? Por que sempre o nada, nada de papel sem poesia, feito de embuste, regras e números valem mais dos que as horas em que estamos juntos? Não te lembras da infância, então experimentas. Por que não convocar a justiça coletiva como um pré-requisito para a felicidade? Que sórdida descrença se nos ilude pelo individual? Que objeto opaco o nosso antigo brilho abandonou. Alma Fausta e eterna, trocada pelo desejo coletivo e misturada a um corpo vermelho de lobo e pergaminho. Pinta teus novos descaminhos, com os restos que já não te obedecem e com as cores transparentes do futuro e integra, em mais um passo, essa eternidade passageira com a nossa despedida. Lamento meu caro Fausto a tua partida, mas ainda vejo deuses descalços pelos caminhos dos ventos, ainda corro até eles e me distancio das palavras, ainda serei feliz sem que tu sejas. Talvez não, meu otimismo, também vacila. Talvez, se das palavras quietas brotassem sonhos... e brotam como sabemos... talvez ainda sejam, nossos desconhecidos, felizes sem que sejamos. Podemos ir, confiantes no futuro, tu, mais apressadamente... posto que quase libertado das palavras, as horas já destinam seus ponteiros. Perceberemos?
*Professor Ricardo KubruslyIM-UFRJ
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